* Vaiado e chamado de burro, Davide Ancelotti é o problema do Botafogo? O principal, não. Mas o técnico, em seu primeiro trabalho no cargo, não tem se mostrado solução. Não é exatamente o que o clube precisava e claramente tem dificuldades em entender o contexto.
* E o que o Botafogo precisava? De um treinador quase “manager“, que lidera toda a estrutura do futebol. Como foram Luís Castro e Artur Jorge. Um cara grande, que chama a responsabilidade, firme, de personalidade, que passa confiança para todos ao seu redor. Técnico no Brasil não é apenas responsável pelo campo e bola, tem uma série de situações para lidar. Davide está preparado? Não parece estar.
* Fora esse fator, a maior questão negativa de Davide até aqui tem sido a leitura de jogo. Ou a falta de. O italiano demora demais a mexer, substitui mal e não gera soluções a partir do banco de reservas. Após o empate em 3 a 3 com o Mirassol, na entrevista coletiva, pediu mais tempo para analisar o que ocorreu. Ou seja, ainda não entendeu.
* Cabe ao técnico essa percepção, a leitura rápida e ajustar o time. Ele foi fazer alterações apenas após o Mirassol empatar, em 16 minutos. Todo mundo estava vendo o que ia ocorrer, e Davide nada fez para ajudar sua equipe.
* O Botafogo de Davide Ancelotti parece conseguir jogar bem apenas em um contexto. Partidas mais abertas, de transição, contra adversário que não se retranca nem abusa do antijogo. A equipe precisa de ritmo para performar. O que faz em parte dos jogos, sem manter o ritmo no restante. Como diante do Mirassol.
* Há jogadores técnicos e inteligentes com a bola, que sabem aproveitar bem os espaços. Ao mesmo tempo, eles são franzinos e baixos, dificilmente furam defesas bem postadas e não têm força na recomposição. No segundo tempo, já não dava para contar com Chris Ramos, Savarino e Montoro na marcação, enquanto Santiago Rodríguez se esforçava, mas caía de produção.
* Era hora de um time mais físico e experiente, mais protegido defensivamente. Não precisava ficar aberto para jogo de trocação, tentando contra-ataques que não existiram. Mas o técnico não percebeu isso. Talvez até agora não tenha percebido.
* Contudo, por mais que caibam críticas a Davide Ancelotti, há responsabilidade grande por parte dos jogadores também. O time tem sido juvenil, passivo, sem malandragem. É muito “bonzinho” em campo.
* No segundo tempo, era para “não ter jogo”. Você diminui o ritmo do jogo, desacelera, ganha tempo, pede atendimento, demora em substituições. É bonito? Não. É fair play? Não. Mas o futebol brasileiro é uma selva, se você não se adaptar, é engolido.
* Quer ver um exemplo? O Vasco não deixou os jogos contra o Botafogo na Copa do Brasil fluírem. Fez faltas até fora do lance da bola, arrumou confusões para ganhar tempo, fez cera, travou a partida. Porque sabia que se deixasse o ritmo da partida correr normalmente, o Botafogo poderia levar vantagem tecnicamente.
* Quer outro exemplo? O Vitória foi para o Estádio Nilton Santos para empatar, enrolou, caiu, fez cera, atrapalhou. Levou o ponto que queria.
* A torcida do Botafogo já conhecia o “truque” de Gatito Fernández com a lente de contato. E gostava. Assim como adorou quando Marçal esfriou o jogo com o São Paulo no Morumbi, nas quartas da Libertadores 2024, aproveitando que Rafinha foi garoto.
* Futebol no Brasil também é isso. O Palmeiras joga assim, o Flamengo joga assim, o Cruzeiro joga assim. Já o Botafogo, bonzinho, não. De repente, quer ganhar o troféu fair play em dezembro.
* Por fim, a arbitragem, de novo. Deixou de marcar dois pênaltis para o Botafogo contra o Mirassol. Como já havia deixado de marcar um em cada jogo com o Palmeiras, outro contra o São Paulo, anulou pênaltis contra São Paulo e Cruzeiro etc. Em campo, o time não tem malandragem, fora, não tem representatividade e força. E, assim, vão ficando pontos preciosos pelo caminho.