* Você se recorda de Botafogo 1 x 3 Corinthians na estreia do Campeonato Brasileiro 2022 ou de Botafogo 0 x 2 América-MG na Copa do Brasil 2022 ou até mesmo de Botafogo 2 x 4 Vasco no Campeonato Carioca 2024? Todos esses jogos tiveram cenário parecido com o da derrota de 3 a 1 para o Junior Barranquilla (COL).
* O Botafogo resolve tentar ser ofensivo, joga aberto, exposto, o adversário se fecha, contra-ataca, fura as linhas com facilidade e vence a partida. A visão pode ser simplista, mas fica claro que o elenco que o Botafogo tem não é exatamente com a característica de ser propositivo.
* Luís Castro tentou jogar assim no início, com linhas mais avançadas, posse de bola, marcação na frente. Não teve tanto sucesso. Seu melhor momento foi quando entendeu a característica do time, que funcionava melhor se postando mais atrás, fechando a defesa, ganhando duelos físicos no meio e saindo em alta velocidade para o ataque. É o DNA desse Botafogo, que Bruno Lage tentou mudar e não deu certo. Assim como fez Tiago Nunes.
* Quando Fabio Matias entrou, fez esse jogo mais pragmático nos duelos contra o Red Bull Bragantino: um Botafogo competitivo, intenso, mais fechado, explorando espaços. Contou com grande atuação de Júnior Santos. Já contra o Junior Barranquilla, o que se viu foi bem diferente. Um time mais espaçado, tentando trocar passes e exposto demais aos contra-ataques do adversário. Perdeu justamente.
* É possível jogar bem das duas formas, é claro. E é justo lembrar também que Luís Castro também teve jogos de controle, posse de bola, imposição e amasso no adversário. A questão é entender quando é para atuar assim e quando não é. Em vitórias sobre Corinthians, Fortaleza e Fluminense em casa, o Botafogo (já com mais confiança e organização) atropelou. Contra Palmeiras, Cuiabá e Grêmio (nessa partida já com Cláudio Capaça no comando) fora, ganhou com jogo reativo.
* O Botafogo ainda não está no estágio de querer ser propositivo o tempo todo. Em determinados jogos, dá. No duelo com o Junior Barranquilla, achou que dava. Não deu.
* E aí cabe entender a característica do elenco e de seus jogadores. Para um jogo de imposição e de estar quase sempre no campo ofensivo, é preciso que seu goleiro seja ágil, tenha boa saída e noção de cobertura: não é o caso de Gatito Fernández. Seu lateral, quando fica como último homem de defesa, tem que ser veloz e especialista em recuperação de bola: Mateo Ponte escorregou no segundo gol e errou a linha de impedimento no terceiro diante do Junior Barranquilla. Hugo é outro que tem problema com cobertura de espaços. Seus zagueiros precisam ter velocidade, imposição física e combate direto: Lucas Halter e Alexander Barboza (a exemplo de Adryelson e Victor Cuesta) parecem se sentir mais confortáveis postados e rebatendo bolas. Seus meio-campistas devem ter capacidade associativa com bola no pé, controle do jogo e marcação forte: Gregore marca, mas não é tão técnico jogando, Eduardo pouco tem criado ou ajudado a defender. O ataque tem que pressionar a saída de bola: Tiquinho Soares e Eduardo não têm intensidade para suportar, mal fazem faltas e são facilmente superados, Savarino também não é tanto de pressionar.
* Ou seja, como você vai jogar dessa forma se sua característica não é exatamente essa? O Botafogo não pressiona corretamente, fica com linhas distante e facilita o jogo de transição do adversário. E, na hora de construir, não é tão eficaz no jogo associativo, na troca de passes e em arrumar soluções ofensivas.
* O X da questão é que John Textor gosta do “Botafogo Way“, deseja esse estilo mais propositivo e de imposição. Contratou Artur Jorge, que parece se encaixar nesse modelo. Para dar certo, vai ter que haver quebra de vez com o Botafogo de 2023, com barração de jogadores tido como importantes. Ou o técnico vai ter que se render, primeiro jogar de forma reativa e aos poucos colocar seu estilo. É aguardar para ver.