* O cenário de 2023, caso confirmada a perda de um título que parecia tão próximo, talvez seja o mais doloroso, com o roteiro mais cruel. Mas, infelizmente, queda de desempenho do Botafogo em reta final não chega a ser uma novidade. Nós, botafoguenses, sabemos bem. É só relembrar anos como 2007, 2010, 2011, 2013 e 2017. Não é só o rendimento, a parte psicológica despenca.
* O Botafogo entra em uma espiral de pessimismo e de falta de confiança. Não cresce na hora decisiva. É de se esperar que na era SAF isso mude, mas talvez o tempo ainda seja pouco. O alerta tem que ficar ligado, na montagem de elenco, de comissão técnica e de diretoria.
* Quando o Botafogo se agigantou para conquistar títulos o que teve de diferente? Geralmente, elementos externos, sem a aura negativa, com mentalidade forte o suficiente para puxar tudo para cima. Um Loco Abreu, um Seedorf, um Túlio Maravilha, até mesmo um Joel Santana. Os mesmos que, vocês podem dizer, sucumbiram após títulos e deixaram outros objetivos escaparem. Mas deixaram marcas. Assim como Joel Carli foi fundamental na conquista do Campeonato Carioca de 2018 e na Série B de 2021.
* Quem mais tem essa mentalidade? Ele próprio, Luís Castro. É um personagem grande, forte, que blinda o elenco, que puxa a responsabilidade para si. Que tem seus defeitos, que erra e acerta, mas que instalou um espírito vencedor no grupo. O mesmo time com ele fez 30 pontos em 12 rodadas do Campeonato Brasileiro, sem ele fez 29 pontos em 19 jogos. Que diferença surreal.
* John Textor tem essa mentalidade forte, positiva, já percebeu esse negativismo que ronda o Botafogo, tenta mudar. Mas está à distância na maior parte do tempo. Essa mudança passa pelo perfil de todo o grupo de trabalho. É um novo Botafogo, estruturado, mas precisa ser também forte psicologicamente. Vai ser o desafio dos próximos anos.
* Na hora da decisão, quem está chamando a responsabilidade no Botafogo? Nem treinador, nem jogadores. Com a queda de nível coletivo, o individual também piorou. Lideranças técnicas não estão bem, como Lucas Perri, Eduardo e Tiquinho Soares. O capitão Marçal está mal em campo e parece não conseguir liderar o grupo. Diversos outros baixaram o desempenho.
* O técnico, Lucio Flavio, não se mostrou capaz de comandar o Botafogo nesta reta final. Talvez não esteja pronto, talvez um dia esteja, talvez não. Em campo, usa as peças de Luís Castro mas em um esquema parecido com o de Bruno Lage. Time espaçado, com marcação adiantada, linha alta, sem substituições planejadas que façam a diferença. Lage ainda tentou mudar, fez errado porque mexeu nas posições erradas (Tiquinho Soares, Tchê Tchê e Di Placido). Lucio Flavio sequer tenta. Tem que perceber que Marçal, Marlon Freitas e Eduardo estão péssimos. Victor Cuesta e Tiquinho Soares também, mas é mais difícil encontrar substitutos.
* E, é inegável, Lucio Flavio não é um personagem de mentalidade forte o suficiente para o que o Botafogo precisa. Tem sua história no clube, ganhou dois títulos cariocas, perdeu dois, foi um bom jogador, sempre mostrou profissionalismo e dedicação, mas ficou marcado por parte da torcida mais por derrotas do que por vitórias. Fez parte de um Botafogo que ficou no quase porque não cresceu na hora da decisão. Exatamente o que pode acontecer novamente com o time atual. Não dá para dizer que é o culpado, até porque os jogadores o indicaram e têm mais responsabilidade, mas tem sua parcela.
* Por fim, ainda dá. Acredite. Só que depende mais de o Botafogo vencer seus próprios fantasmas, sua desconfiança interna, seus medos. Depende de o clube se recuperar psicologicamente e dar a volta por cima já no jogo com o Grêmio. O campeonato continua embolado, os outros têm partidas difíceis, cabe ao Botafogo fazer sua parte.