Eu juro que perdi a conta de quantas vezes me emocionei desde o apito final do último Flamengo x Botafogo. Ver o nosso clube voltando a ter condições de se colocar em um nível concretamente competitivo é algo extremamente relevante e, acima de tudo, fruto de uma visão diferenciada de como o futebol precisa ser feito.
Nesse texto quero trazer a minha visão sobre qual deve ser o papel dos três elementos centrais na nossa caminhada até o fim do ano, sendo eles: a torcida, o departamento de futebol e a diretoria. O meu objetivo não é ensinar nada para ninguém, pois obviamente não tenho nem o poder e nem a sabedoria para tal, apenas gostaria de dividir com vocês alguns pensamentos e crenças pessoais.
Obviamente é muito legal ver o time ganhando forma, consistência e pontos, mas tudo isso somente será potencializado ao máximo se a torcida realmente “comprar o barulho” desse elenco. O Estádio Nilton Santos precisa ser um local desconfortável para os adversários e energizante para o nosso time! O torcedor precisa levar para as arquibancadas alguns dos ensinamentos que esse primeiro ano de SAF ofereceu, ou seja, é preciso entender que a oscilação faz parte do processo de formação/consolidação de uma equipe competitiva (ainda mais no Campeonato Brasileiro), que nem tudo está errado na derrota e certo na vitória, que é preciso cobrar e mostrar sua insatisfação de maneira inteligente, entre tantas outras coisas.
Eu sei que vários desses elementos acabam sucumbindo ao alto grau de paixão do torcedor, mas já falei e repito: a lógica de torcer por um clube que virou empresa não é a mesma de torcer para um clube associativo. Conforme a SAF avançar, nós precisaremos fazer o mesmo! Não quero dizer com isso, que devemos abrir mão da paixão e passar a balizar nossas ações e reações somente na razão, mas sim que necessitamos perseguir fortemente o maior equilíbrio possível entre os nossos desejos/expectativas e as nossas reais condições/possibilidades em cada estágio do projeto.
Dentro desse cenário, o departamento de futebol precisa ser muito inteligente e atuar como uma “cola” entre o elenco e os torcedores. Uma comunicação clara e objetiva fará com que a torcida compreenda o que ela precisa oferecer aos jogadores nos mais diferentes contextos. Se estivermos passando por uma turbulência, o departamento de futebol necessita transmitir para todos o real grau de complexidade e demonstrar claramente que as correções necessárias estão sendo feitas. O torcedor tem que se sentir parte integrante do processo de fortalecimento da equipe, pois isso estreita os laços e gera um apoio orgânico e, em tese, mais compreensivo/estável.
Todo esse cenário só se manterá “em pé” caso o terceiro elemento entenda completamente o seu papel. A diretoria da SAF Botafogo precisa buscar incessantemente o equilíbrio entre o desempenho financeiro e o esportivo. Ir aos nossos jogos precisa ser algo acessível para TODOS os bolsos, o estádio precisa ter TODOS os seus setores ocupados, é preciso ter orçamento disponível para preencher as claras lacunas do elenco, precisamos do máximo de transparência possível (desde os balancetes até lesões de jogadores), entre tantos outros elementos.
Aproveito esse texto para fazer um pedido à SAF Botafogo: precisamos preservar a identidade aguerrida da nossa torcida (que aula nós demos no último domingo, que aula!) e isso passa necessariamente por não promover o mesmo processo de elitização do estádio visto no Flamengo. Ser sustentável não é apenas fechar “no azul”, mas sim conseguir isso conjuntamente com o fortalecimento da energia que emana das nossas arquibancadas em cada jogo. Será que basta ter uma renda alta e uma torcida passiva? Obviamente não.
Todos nós precisamos entender como cada um pode contribuir da melhor maneira dentro desse projeto que está sendo implementado, pois só assim chegaremos onde queremos.
P.S.: Como é bom poder sonhar novamente!
