A torcida não acerta sempre: reflexões sobre os públicos do Botafogo no Nilton Santos

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A torcida não acerta sempre: reflexões sobre os públicos do Botafogo no Nilton Santos
Vitor Silva/Botafogo

Já tem um tempo que venho falando sobre Botafogo lá no canal “Fala Fogão”, no Twitter e mais recentemente aqui. Todo esse tempo me fez conhecer um pouco melhor a diversidade de pensamentos dentro da nossa torcida e, com isso, acabei fortalecendo algumas crenças pré-existentes e criando outras. Ao longo de alguns dos próximos textos vou falar mais detalhadamente sobre essas percepções, mas hoje vou focar em uma específica: a torcida do Botafogo não pode ser criticada jamais.

Falar sobre a torcida é algo muito espinhoso, pois na cabeça de muitos, o torcedor do Botafogo recebeu o selo de “incriticável” por estar vivendo um sofrimento continuado desde os anos 2000. Obviamente não quero e nem posso ignorar todos os sofrimentos que décadas de gestões trágicas nos ofereceram, mas a chegada da SAF precisa nos libertar disso. Não é justo e nem inteligente transferir para esse “novo” Botafogo a nossa desilusão e raiva com o “antigo”. É preciso entender que, mesmo cometendo erros, a gestão Textor vem nos dando a possibilidade de sermos competitivos outra vez, mas que a grande solidez não virá de imediato.

Um dos maiores exemplos dessa não “virada de chave” de boa parte da torcida é a questão do não comparecimento em massa e de maneira constante no Estádio Nilton Santos. Claramente o clube ainda não encontrou o equilíbrio correto na definição dos preços praticados nos ingressos “avulsos” e também no modelo de disponibilização dos setores ao longo do processo de venda antecipada de ingressos. A falta desse equilíbrio deve ser criticada, mas também é preciso ver que o clube está tentando encontrar soluções boas para a torcida, tendo sido uma delas a boa ideia de cobrar preços menores (não consigo chamar R$ 60 de ingresso popular) na Leste Superior e assim oferecer ao torcedor uma visão melhor, mais conforto e preço mais justo.

A questão dos preços altos é um fator importante, mas nem de longe é o principal “bloqueador” da ida ao Nilton Santos. Ao longo de milhares de horas que já passei fazendo “lives”, pude escutar as mais variadas justificativas para públicos baixos ou razoáveis. Invariavelmente são citados os horários ruins dos jogos, dificuldade de transporte, preços altos, times ruins, decepções ocasionadas em jogos de grande público e os longos anos sem títulos importantes. Pois bem, vamos debater um por um:

1. Horários ruins: De fato os jogos realizados durante a semana e na parte da noite são realmente um problema, pois o retorno será sempre complicado. O contraponto válido é que o mesmo se aplica para os outros clubes do Rio de Janeiro. Lembrem-se de que sair de São Januário é mais complicado do que sair do Nilton Santos e a torcida do Vasco vem lotando o estádio.

2. Dificuldade de transporte: O Nilton Santos fica ao lado de uma estação de trem, ao lado da Linha Amarela, possui estacionamento próprio (também sendo muito possível estacionar no Norte Shopping) e possibilita o uso do Uber, ou seja, é um estádio viável. Obviamente vem faltando um apoio maior das concessionárias dos transportes públicos (metrô, trem e ônibus) e isso precisa ser acompanhado de perto pelo Botafogo.

3. Preços dos ingressos: O Botafogo acertou muito no plano Alvinegro e na precificação da Leste Superior, agora precisa acertar a questão dos ingressos avulsos. Em contrapartida, a torcida não pode deixar de esgotar os ingressos mais baratos como está fazendo nesse jogo contra o Atlético-MG, isso é indefensável na minha visão.

4. Times ruins: O time atual é bom (3 jogos e 3 vitórias até aqui) e passa por uma fase bem positiva.

5. Decepções ocasionadas em jogos com grande público: O Botafogo mais ganhou do que perdeu nessas circunstâncias, basta pesquisar.

6. Longos anos sem títulos importantes: Esse peso não deve ser transferido para a SAF, precisamos mudar essa relação.

Analisando tudo isso, a minha opinião de que o torcedor médio do Botafogo não tem a cultura de ir ao estádio se fortalece muito. Precisamos encarar esse problema de frente e sempre nos atentando para a realidade. Se os preços estivessem corretos, nós não teríamos um aumento significativo nos públicos pagantes. Ano passado botamos 28 mil torcedores (desse total foram quase 2 mil gratuidades via Lei) contra o Santos em um jogo com dois ingressos “grátis” por sócio e a possibilidade de entrar na zona de classificação direta para a Libertadores na penúltima rodada. Não consigo achar isso aceitável e normal, não mesmo.

O Botafogo precisa urgentemente entender como trazer esse torcedor “condicional” para o Nilton Santos, mas essas pessoas também precisam querer se conectar com esse “novo” Botafogo. Não adianta colocar a culpa somente no clube e na política de ingressos, pois o nosso problema é bem mais profundo que isso. Precisamos que as duas partes evoluam e se complementem, pois só assim conseguiremos resolver o problema.

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