Fico imaginando a redação de alguns veículos de comunicação na manhã desta quinta-feira. Clima de velório misturado com tensão pelo que pode acontecer logo mais no Uruguai. Se não bastasse a preocupação com isso, vem o Botafogo e me apronta uma dessas ontem. Cenário pronto, gol do Calleri, pênaltis e São Paulo na semifinal. Cenário perfeito. Ao narrar o gol paulista o locutor nem escondeu a animação: “Toca no Calleri”. E o comentarista lamentou perto do fim: “O São Paulo teve chances, mas INFELIZMENTE a bola não entrou”. Aí vem esse John, que desandou a pegar pênaltis agora, e acaba com tudo. Um quadro grave e que com certeza pode ter gerado uma reunião de emergência em algumas redações.
Imaginem o chefe de redação danado da vida: “Vocês viram o que aconteceu ontem? Vamos deixar assim? O que podemos fazer?”
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O primeiro repórter tenta.
– Esse Alexander Barboza é meio descontrolado em campo, o Artur Jorge até tirou ele. Podemos dizer que ele pertence a alguma organização mafiosa?
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– Mas neste caso não vamos conseguir provar – rebate o chefe de redação.
– Desde quando isso faz diferença para nós chefe? A gente coloca na boca da mídia internacional- pergunta o repórter insistente antes de ser interrompido pelo colega.

– E se falássemos que o dinheiro do clube vem também de um bingo clandestino em General Severiano?
– Quem deixou o estagiário dar palpites? – questiona o chefe de redação antes de o repórter mais experiente aparecer na parada.
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– Júnior Santos e Eduardo devem voltar antes do prazo, Cuiabano também. Se a gente pensasse em um esquema de satanismo na recuperação de atletas? O povo não vê satanismo com bons olhos.
– Esquece, o Flamengo também vem recuperando jogadores rapidamente. E sabe como é né, esse negócio de pacto com o diabo vão associar a outros clubes – disse o chefe de redação, bravo: Caramba gente, não dá para pensar em nada bom. Os caras estão na semifinal da Libertadores e lideram o Brasileiro. Vai dar M…
Enfim a solução…

Silêncio total, interrompido pelo chefe de reportagem: “Chega. Traz aquele material que fala que a ida do Segovinha para o mundo árabe é tráfico de crianças para o exterior e vamos ver no que dá. Qualquer coisas falamos que um tribunal árabe recebeu denúncia e não levou adiante pois não deu importância. Publica na semana da semifinal”.
Ao sair da reunião o chefe olha para o lado é pergunta: “O que a nossa repórter está fazendo ajoelhada na redação?”
– Está desde ontem assim, rezando para as almas do Morumbi – disse o repórter.
Esse é o mundo de parte da mídia na Era John Textor…