A semana marca o aniversário dos 30 anos do fim do jejum de títulos do Botafogo. E o FOGÃONET não vai deixar passar em branco. Preparamos uma série de quatro dias recordando um pouco aquele título histórico.
Foi no dia 21 de junho de 1989 que, em um Maracanã lotado, Maurício fez o gol que derrotou o Flamengo e acabou com a agonia do torcedor botafoguense. O capítulo final de uma história que começou a ser escrita muito antes. O Botafogo era um clube desacreditado no fim da década de 80. Sem a sede de General Severiano, vendida por gestões anteriores, a tradição, marca do clube, parecia não fazer muito sentido. Os anos sem conquistas aumentavam o desespero do torcedor. Essa história, porém, começou a mudar três anos antes de 1989, em 1986, quando Emil Pinheiro chegou ao clube.
Emil Pinheiro era banqueiro do jogo do bicho. Quando a atividade dava sinais de que renderia ele investiu e comprou bancas na região da Barra da Tijuca. Foi ali que conseguiu montar um império financeiro. O propósito de fazer fortuna era poder realizar o sonho do filho, Ernesto, morto em um acidente em 1978: voltar a ver o Botafogo campeão. Assim que começou a ter potencial de finanças Emil ingressou no Botafogo, mas em 1986 e 1987 sua atuação foi bem tímida.
Emil montou antes a base de 1989. Mas errou em um primeiro momento…
Em 1988 Emil Pinheiro passou a ter voz ativa nas contratações, chegando ao cargo de vice-presidente de futebol na gestão de Althemar Dutra de Castilho. Em um primeiro momento acreditou que o segredo do sucesso estava em investir em medalhões. Um time com Delei, Gilmar Popoca, Éder Aleixo e Cláudio Adão, dentre outros veteranos, fracassou. E olha que teve investimento internacional com a chegada do então artilheiro da Libertadores, o uruguaio De Lima, que também pouco acrescentou.
Apesar desses equívocos, Emil conseguiu formar ali a base que conquistaria o caneco estadual um ano depois. Peças como Ricardo Cruz, Mauro Galvão, Wilson Gottardo, Carlos Alberto Santos, Maurício, Mazolinha, Paulio Criciúma e Gustavo já estavam no plantel em 1988, assim como atletas que haviam sido revelados nas categorias de base e já estavam estabelecidos no grupo, como Josimar e Luisinho.
Aposta em Espinosa e papel decisivo no título
Para fazer de 1989 um ano-chave Emil apostou na chegada de Valdir Espinosa, técnico que em 1983 tinha levado o Grêmio a conquistas internacionais.
– A primeira coisa que fiz foi pedir para o Emil Pinheiro parar de contratar. Ele não media esforços para formar um grupo campeão, mas eu precisava conhecer o plantel – recordou Valdir Espinosa em entrevista ao FOGÃONET.
O cartola foi fundamental em todo o processo que conduziu o Glorioso ao título.
– Costumo dizer que todos que participaram daquela campanha têm o mesmo peso nos méritos da conquista. Apenas dois podem dizer que contribuíram mais, que foram mais importantes para a conquista: a torcida, que apoiou o tempo todo, e o Emil Pinheiro. E não estou falando da questão financeira, das condições de trabalho que ele dava. Logicamente que pela condição dele ele chegava junto e garantia o pagamento, os prêmios, etc. Mas falo de como ele conseguiu transmitir a todos nós o amor pelo Botafogo. O Emil tinha um amor pelo Botafogo contagiante. Ele acompanhava todos os treinos, seja qual fosse o treino ele ficava até o fim. Ia para a concentração. Conversava com os jogadores. Ele só não dormia na concentração. Mas o resto estava presente sempre. Foi muito importante – recordou Espinosa.
Emil: “Agora posso morrer tranquilo”

Emil já como presidente (Foto: Reprodução Youtube)
O bom trabalho desempenhado levou o Botafogo à final de 21 de junho de 1989. Tão logo o apito final do árbitro foi dado o gramado ficou cheio. Emil Pinheiro, então com 66 anos, mirava o placar eletrônico com os dizeres “Botafogo campeão” como uma criança. Com brilho nos olhos via a torcida pulando. Ao ser cercado pelos microfones desabafou:
– Essa isso que eu queria. Ver essa torcida sorrir, vibrar, cantar. Agora posso morrer tranquilo – disse Emil.
Após o título ele investiu ainda mais. Com a chegada de nomes como Valdeir, Gonçalves, Donizete e Carlos Alberto Dias o time foi bi em 1990. Por muito pouco ficou de fora da final de 1991. Ainda naquele ano, contratou Renato Gaúcho, mexendo com o mercado carioca e brasileiro.
Em 1992, quando já estava na presidência do clube, o Botafogo foi finalista do Brasileiro. Após o primeiro jogo da final, uma derrota de 3 a 0 para o Flamengo, Emil se sentiu traído pela postura de alguns jogadores, principalmente Renato Gaúcho, que foi participar de um churrasco do rival no dia seguinte. O atacante foi afastado e sequer participou do segundo jogo.
Fim de vida afastado das mídias
Desiludido, Emil deixou o clube logo depois da final. Levou seus jogadores para o América-RJ apenas para que eles terminassem o vínculo que possuíam em atividade. Depois de seis meses no Diabo abandonou o futebol.
A partir de 1993, com demais nomes do Jogo do Bicho no Rio de Janeiro, enfrentou problemas com a Justiça e foi preso.
Emil passou a sofrer da doença de Parkinson. Teve um fim de vida discreto, saindo pouco de casa. Morreu em 16 de julho de 2001 afastado da mídia, mas tranquilo, com a certeza do dever cumprido.
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