Praticar o botafoguismo não é coisa simples. Esse clube gigante, com uma história maravilhosa e um símbolo encantador, vai sobrevivendo a duras penas. Enquanto todos aguardamos a salvação com a S.A., o Botafogo vai provocando na gente um turbilhão de emoções. Às vezes, tem empolgação. Depois, ele vem e dá uns dois socos na boca do nosso estômago.
Se estávamos esperançosos com a equipe que está sendo formada para o Campeonato Brasileiro e a Copa do Brasil, a quinta-feira reservou duas notícias muito ruins e que acabam afetando a confiança do torcedor: 1) o pedido de socorro dos funcionários, que convivem com salários atrasados; e 2) o fim do basquete campeão sul-americano.
Basta ler as análises de pessoas especializadas no assunto e até mesmo as entrelinhas do discurso dos dirigentes. O Botafogo não tem receita, não tem dinheiro. Se não for a nossa mobilização, a nossa vigilância, o sócio-torcedor, a compra de produtos oficiais, a assinatura do pay-per-view, as inscrições na Botafogo TV, o Glorioso não vai ter como caminhar.
É importante frisar que o fato de continuar apoiando o clube com essas atitudes não significa passar a mão na cabeça dos dirigentes. Não é proibido você contribuir com o clube e criticar esse ou aquele cartola. É preciso cobrar sempre responsabilidade de quem está no comando. Até porque é a nossa maior paixão que está em jogo.
Salários dos funcionários e a MP 936
Dito isso, vamos à situação dos funcionários. Como todos os clubes fizeram, o Botafogo demitiu alguns deles no início de maio, no auge da pandemia do novo coronavírus. Porém, o discurso era de que os salários dos que continuaram não seria afetado. Por que não utilizaram da MP 936, que previa a suspensão dos contratos?
Por conta da pandemia, o Governo Federal se viu obrigado a adotar algumas medidas visando a manutenção dos empregos e da saúde financeira das empresas. Uma dessas medidas foi justamente a MP 936. O Botafogo poderia, por exemplo, suspender o contrato de funcionários que ficaram em casa – neste caso, o Governo é quem pagaria os salários durante o período.
Basquete e o espírito do botafoguismo
Todos lamentamos muito o fim do basquete do Botafogo, um dos poucos que nos deu alegrias recentemente, com jogos épicos, viradas e mais viradas e o título da Liga Sul-Americana. É claro que, num clube com tantas dificuldades, é preciso ver onde se pode pisar. E, nas atuais condições, fica difícil manter qualquer coisa que não seja o futebol, carro-chefe na obtenção de receitas.
Entretanto, nos bastidores sempre houve rusgas e um certo “ciúme” do futebol sobre as receitas que estavam sendo conseguidas pelo basquete. Porém, chegou uma hora que o dinheiro não apareceu. E aí não teve jeito a não ser encerrar um projeto vitorioso. Mas… Faltou um pouco de respeito e atitude para com os atletas.
Desde que o NBB foi encerrado por conta da pandemia, a diretoria já poderia ter feito uma espécie de acordo com os jogadores. Enxugar gastos aqui e ali e buscar receitas. Ninguém discorda que o basquete é quem tem de se bancar. Não pode tirar dinheiro de outros setores. O basquete estava se bancando, até vir a pandemia.
Mas não, não tomaram nenhuma atitude e os jogadores ficaram esperando, tudo num clima de total indefinição. Agora, infelizmente, acabou. Num clube com uma saúde financeira melhor, ele teria continuado. Resta agora a nós, torcedores, valorizar os atletas e a comissão técnica – capitaneada pelo excelente Léo Figueiró – por tudo o que fizeram. Eles não podem ser esquecidos e estão na nossa história.
