Em uma medida inédita no futebol brasileiro, a sessão de julgamento no STJD do pedido de anulação do Botafogo x Palmeiras revelou o áudio da conversa entre o árbitro de campo e o VAR durante a partida. O trecho solicitado pelo tribunal e cedido pela CBF mostra a dinâmica dos fatos que culminaram com a marcação do pênalti a favor do time paulista.
O jogo foi colocado em xeque pelo Botafogo no STJD por considerar que o árbitro de vídeo autorizou o reinício da partida após marcar simulação de pênalti do atacante Deyverson e aplicar o amarelo na jogada. O protocolo do VAR veta que uma decisão seja alvo de checaem e eventual alteração. Por causa da iniciativa alvinegra de pedir a impugnação, a CBF não pôde homologar o resultado do duelo, que terminou 1 a 0 para o Palmeiras.
O áudio da conversa com o VAR revela a confusão que se dá ao redor da equipe de arbitragem e tem como ponto central os gritos do árbitro de vídeo, Adriano Milczvski, para o árbitro principal, Paulo Roberto Alves Júnior.
– Segura, segura, segura! Aguarda que eu vou checar – foi o que exclamou Adriano quando os jogadores do Botafogo chegaram a tocar a bola para o lado.
Em resposta, Paulo Roberto diz:
– Pô, pessoal. Ok, ok, ok, mas fala antes.
Durante o período de revisão, o árbitro de campo chega a comentar a respeito de Deyverson:
– Ele se jogou, você conhece.
Segundo Paulo Roberto, apesar de não ter sido avisado imediatamente sobre a checagem, a autorização para reinício do jogo não foi dada porque ela demandava apito. O árbitro disse que estava com o braço para cima para cumprir a sinalização de que o Botafogo, inicialmente, teria que cobrar tiro livre indireto.
– Pelos poderes e deveres que a regra permite ao árbitro, toda situação de cartão amarelo e vermelho, a regra diz que é obrigatório usar o apito para reiniciar o jogo. O Botafogo cobra rápido, mas era uma situação de cartão amarelo. Não tinha autorizado com o apito. Já paraliso a cobrança porque, pela regra, não tinha usado. Aquela sinalização é que toda simulação é tiro livre indireto. Uma cobrança que deveria ser cobrada em dois lances – comentou o árbitro, que esteve na sessão de julgamento do STJD realizada nesta terça-feira, em Salvador.
O responsável pelo VAR daquela partida participou por videoconferência e achou interessante que o áudio da conversa tenha sido divulgado neste caso.
– Acho que é válido, sim, até para que as pessoas possam entender como é a dinâmica do VAR dentro da cabine. É para entender que você está trabalhando e não assistindo ao jogo – disse o árbitro Adriano Milczvski.