Quando Fellype Gabriel foi negociado, as previsões quanto ao futuro do Botafogo ficaram nebulosas pela ausência do meia ou volante fundamental taticamente, um dos destaques da conquista do Estadual.
Entrou Vitinho. Na base bem montada por Oswaldo de Oliveira, a velocidade, o drible fácil e a volúpia ofensiva do jovem promissor encaixaram perfeitamente no quarteto ofensivo alvinegro com Seedorf, Rafael Marques e Lodeiro.
Multa baixa, o russo CSKA aproveitou e levou a revelação do líder do Brasileiro até então. Torcida revoltada, pessimismo…E Oswaldo tira mais um coelho da cartola: Hyuri, 21 anos, emprestado pelo Audax após bom desempenho no Carioca.
Estreia no Maracanã, jogo decisivo para não deixar Cruzeiro e Atlético-PR abrirem vantagem, Lodeiro com a seleção uruguaia, apreensão…e o jovem atacante simplesmente pulveriza a defesa do Coritiba. Aberto pela direita, formando trio de meias com Seedorf e Rafael Marques atrás de Elias.
Não foi uma brilhante atuação coletiva do Botafogo. A fluência dos volantes Marcelo Mattos e Gabriel e dos laterais Edilson e Julio César na saída de bola não foi a mesma de outros jogos. A ponto do Coxa ter 51% de posse de bola no primeiro tempo.
Coube a Rafael Marques desequilibrar com um belo gol em finalização de primeira e jogada pela esquerda com cruzamento digno de um típico ponteiro para o primeiro de Hyuri, comemorado com lágrimas e um tocante abraço em Seedorf. As duas conclusões do alvinegro na direção da meta em 45 minutos.
Impressiona como o camisa vinte, outrora tão contestado, rende nas quatro funções ofensivas do esquema. Pelos lados, recuado ou como referência, vai à redes e serve os companheiros – oito gols e quatro assistências.
A equipe paranaense tentou acelerar os contragolpes com Vítor Júnior e Geraldo pelos lados e Julio César no centro do ataque à frente de Alex no 4-2-3-1 de Marquinhos Santos. Mas com o camisa dez bem vigiado por Mattos e Gabriel, o Coxa não criou. Não cria.

O golaço de Hyuri no início da segunda etapa parecia ter decidido o jogo. Inclusive psicologicamente, já que o garoto humilhou Diogo e Chico com lindos dribles antes de chutar cruzado na saída de Vanderlei. Um dos lances mais belos da temporada. Mas o pênalti e a expulsão de Renan recolocaram o alviverde no jogo. Vantagem numérica e cobrança precisa de Alex no canto de Milton Raphael, que entrou na vaga de Elias.
Oswaldo inicialmente repaginou o Bota no 4-4-1, com Seedorf mais avançado. Depois recuou Marcelo Mattos para continuar no cerco a Alex e formou uma linha de quatro à frente, marcando laterais e volantes do oponente, deixando os zagueiros livres para garantir a sobra atrás. Marquinhos adiantou sua equipe de vez com Maykon, Lincoln e Bill. Subiu a posse para 57% e chegou a 14 finalizações.

Hyuri saiu machucado, mas o momento alvinegro é tão iluminado, especialmente para os mais jovens, que o menino Octávio entrou com personalidade e acertou lindo passe para Gabriel, que perdeu a chance e se lesionou também. Lucas Zen entrou e o time carioca, mais tranquilo com a expulsão de Maycon, administrou a vantagem sem os sustos de jogos recentes.
O Botafogo que era de Fellype Gabriel e passou por Vitinho, agora segue a vida com Hyuri, o dono da noite no Maracanã. A base forte e versátil ajuda o time que parece inesgotável na capacidade de se reinventar. Contrariando até a lógica, segue lutando no topo da tabela do Brasileiro.