Em 2010, o maior ídolo da história do Grêmio assumiu o comando técnico com o time na 18ª colocação do Brasileiro em agosto e terminou o ano com a melhor campanha do returno e vaga na fase preliminar da Libertadores.
Típico motivador, Renato Portaluppi dominou o vestiário com seu carisma, recuperou o elenco fisicamente, resgatou a tradicional fibra do tricolor gaúcho e, taticamente, fez o simples: armou um 4-3-1-2 que dava liberdade a Douglas na articulação e era forte pelas laterais com Gabriel, hoje no arquirrival Internacional, pela direita e a dupla Fabio Santos e Lúcio à esquerda. Sempre procurando o artilheiro Jonas na frente.

Três anos depois, o cenário é bem menos complexo. Início de Brasileiro, bem longe das últimas colocações, elenco bem mais qualificado. Mas as soluções são muito parecidas.
O técnico já parece ganhar o grupo, que mostra gana e corre demais. Nos 2 a 1 sobre o Botafogo em sua estreia na nova Arena do clube, a raça e aquele esforço a mais que se nota quando o time corre pelo treinador ajudaram na vitória sofrida diante de um adversário fortíssimo.
O alvinegro comandado por Oswaldo de Oliveira mostrou novamente o talento de Seedorf no golaço de empate, mas também a movimentação do quarteto ofensivo, o bom toque de bola e a força pelos lados que dão volume de jogo e faz o Bota atacar o oponente em qualquer campo.
No único momento real de dificuldade, logo após o primeiro gol de Vargas com torcida empolgada e o Grêmio impondo ritmo forte, a categoria de Seedorf descomplicou tudo e igualou o placar. No segundo tempo, mudanças de Oswaldo que tornaram os visitantes ainda mais ofensivos e perigosos. Sufoco até o final.
Mas o tricolor gaúcho não foi só garra ou “pegada”. Renato arrumou a equipe no mesmo 4-3-1-2 de sua passagem anterior. No meio, o marcador Adriano mais plantado, Souza e Zé Roberto como “carrileros” pelos lados e Elano de “enganche”, atrás de Vargas e Kléber, substituto do lesionado Barcos.
Ao contrário do time de 2010, este não explora tanto o apoio dos laterais. Pará e Alex Telles ficaram mais fixos, formando a última linha com Werley e Bressan e Adriano plantado à frente vigiando Seedorf, mas sem marcação individual. As ações ofensivas ficaram a cargo de Souza, bem aberto à direita, Zé Roberto e Elano articulando mais centralizados e os atacantes também invertendo. Um mais enfiado e o outro voltando para trabalhar com os meias.

Os gols de Vargas, porém, saíram em cruzamentos de Telles, mesmo com posicionamento mais conservador do lateral esquerdo. No primeiro, assistência tão precisa quanto a conclusão do chileno. Polêmica no segundo: Kléber, impedido, avança em direção à bola, mas não participa efetivamente do lance puramente interpretativo. O assistente anulou, mas Paulo César de Oliveira assumiu e validou. Discutível, mesmo com as mudanças da FIFA. Mas não absurdo.
Certo é que o Botafogo, mesmo com derrota e sem liderança, mostrou vigor para seguir competitivo. É o melhor time da competição até agora. Apesar da empolgação do rival, controlou o jogo com 60% de posse, 15 finalizações contra 10 – 5 a 4 na direção da meta – e 14 escanteios contra quatro.
O Grêmio resistiu bem e o triunfo fortalece ainda mais a comunhão com a torcida. No segundo jogo sob o comando de Renato, o time já está bem próximo do G-4 e a míseros três pontos do líder Coritiba. É preciso evoluir coletivamente e pensar no desgaste do veterano Zé Roberto na nova função no meio.
Mas se a química time-ídolo conseguir algo próximo dos 68% de aproveitamento de 2010, o sonho do título que hoje parece utopia pode se tornar mais real. É bom não duvidar.
