A tragédia já era anunciada. O fim aterrorizante de campeonato do Botafogo já era esperada por muitos. O time que começou o ano merecendo ganhar o mundo encerrou a temporada sem a capacidade de ir à esquina. As noites de sonho tornaram-se dias de pesadelo para uma torcida que vê seu time estagnado no tempo.
Em meio a atuações revoltantes e declarações patéticas, o Alvinegro voltou a amarelar na reta final – como tem feito há muitos e muitos anos. Já são 22 temporadas de fila, que prometem se estender por muitas mais. Ao apito final neste domingo, encerrou-se 2018 com o gosto amargo de que alguma coisa aconteceu e não sabemos – e que nos impediu, como sempre, de concluir uma temporada de maneira decente.
Ao olhar para os lados, vi rostos tristes e lágrimas que não simbolizam a decepção por mais um vexame, mas sim o desespero por notar que o Botafogo parece não ter mais salvação. No fim das contas, ainda somos responsabilizados por diretorias incompetentes, falastronas e amadoras, que jogam seus insucessos em nossas costas. Nós fazemos até muito perto do que o clube tem merecido nas últimas décadas.
Sem a Libertadores, voltamos à realidade: orçamento curto, dirigentes sem capacidade de minimizar o abismo financeiro criado pelas cotas de TV e jogadores mais preocupados com seus bolsos cheios do que em levantar taças. Poucos são os que compreendem a grandeza e a importância de vestir nossa camisa e lutar por ela; quase nenhum entendeu o momento que vivemos e a missão devolver a Estrela às glórias.

Não há clube que resista à tamanha falta de ambição – essa frase estampou a mais verdadeira e sincera faixa de protesto em nosso estádio. Dirigentes mais preocupados em alfinetar o rival e seus adversários políticos – e não estou aqui fazendo lobby pela oposição, pelo contrário. Aliás, a política é um dos cânceres que assolam o clube; fechado e retrógrado, nosso ínfimo núcleo de possibilidades insiste em atrasar o Botafogo em relação aos outros.
Hoje, entramos de férias. O que era pra ser um prazer acaba tornando-se um fardo. Mais um ano se vai sem ver o Glorioso voltar a ser quem é; mais 12 meses vendo rivais debochando, adversários levantando taças e nossa torcida, cada vez mais envelhecida, ficando sem referências para atrair os mais jovens. A urgência de uma taça é do mesmo tamanho da faxina que precisamos fazer em General Severiano.
Registro aqui os meus parabéns à Chapecoense. Após a tragédia que os acometeu em 2016, viaram a página, suaram sangue e deram a volta por cima. Em momento algum usaram o acidente como muleta. Por lá, ninguém falou em “escalar o Everest”. Foram lá e fizeram. Vocês merecem a classificação.
Como eu disse no texto anterior: dane-se a Libertadores. Só queremos o nosso Botafogo de volta. Queremos profissionalismo, trabalho sério, jogadores dignos e títulos. Descanse, botafoguense. Porque você, eu e todos nós precisaremos, novamente, reconstruir o Alvinegro.
Bruno Silva, Guilherme, Roger e outras merdas passam; o Botafogo somos nós. Precisamos lutar e exigir, diariamente, nada menos que o nosso Alvinegro de volta. Que a faxina comece amanhã pela manhã. Não há mais tempo a perder.
Notas
Gatito Fernández: 6
Sem culpa nos gols e sem participações destacáveis durante o jogo.
Arnaldo: 6,5
Apesar da falta de qualidade técnica, correu muito e foi um dos menos piores em campo.
Joel Carli: 6
A segurança de sempre, mesmo contra o veloz ataque do Cruzeiro. Fez um jogo na média.
Igor Rabello: 6
Na mesma que seu companheiro. Se caprichar mais nas cabeçadas ofensivas, pode tornar-se um zagueiro com muitos gols.
Victor Luis: 4
Encerrou sua passagem de forma melancólica, perdendo a bola no lance do gol de empate do Cruzeiro e outros erros infantis.
Dudu Cearense: 4
Não tem mais condições de ser jogador profissional. Não consegue acompanhar o ritmo dos demais. Fica muito bem no YouTube falando “Aca No” e nada mais; no máximo, uma vaga no time de showbol.
Rodrigo Lindoso: 4,5
Frouxo na marcação, mal nas subidas ao ataque e um gol de presente para o adversário, em tabelinha trágica com Dudu dentro da pequena área.
Matheus Fernandes: 5
Não conseguiu repetir suas boas atuações e esteve mal, tanto na marcação quanto no apoio. Pode jogar muito mais.
Leo Valencia: 7,5
Correu, caiu pelos lados, jogou centralizado, deu assistência, finalizou, cruzou, bateu falta e escanteio e deu a vida em campo – entre erros e acertos. É o mínimo que esperamos. É ativo do clube e esperamos que cresça depois de uma pré-temporada bem feita.
Guilherme: 3
Passeou em campo e fez o que sabe de melhor: irritou. Perna de pau, que não era titular nem na base do Grêmio, só veio para tirar a vaga de um dos nossos juniores – e agora volta pro Sul valorizado sem ganharmos nada por isso. Parabéns à diretoria por essa contratação.
Brenner: 7
Não é dos melhores tecnicamente, peca na velocidade, mas foi útil e participativo. Um gol e uma assistência justificam sua nota.
Ezequiel: 7
Entrou com muita fome, correu bastante e fez um lindo gol. É de peças assim que precisamos: ativos do clube, que conhecem nossa historia e darão retorno técnico e financeiro.
Marcos Vinicius: 5
Entrou e sequer testou o goleiro com sua melhor arma, o chute de média-longa distância. Tem todas as chances, mas não engrena.
Vinicius Tanque: 4
Errou todos os domínios e tentativas de pivô. Espero que seja emprestado pra Sibéria.
Jair Ventura: 3
Suas declarações minaram o grupo. Que suba o Everest de sunga.