Dos R$ 20 aos R$ 200, sócios no Rio ‘bancam’ clubes e recebem serviço duvidoso

0 comentários

Por FogãoNET

Compartilhe

Com fortes campanhas de publicidade, descontos em ingressos e até em produtos de supermercado, o número de sócios-torcedores dos grandes clubes cariocas aumentou em quase 75 mil em 2013. Os desafios, no entanto, ainda são grandes.

Com planos novos, como os de Fluminense e Flamengo, e repaginados, no caso de Botafogo e Vasco, torcedores ainda têm sofridos com filas, problemas técnicos, e demora no recebimento das carteirinhas. O controle do número de ingressos por sócios também tem sido problemático.

O ESPN.com.br destrinchou todas as modalidades dos quatro programas de sócios-torcedores dos grandes clubes cariocas, e levantou pontos positivos e negativos.

Sucesso de público

Com mais de três anos de existência, o “Sou Botafogo” apresentou crescimento de quase 200% entre janeiro (4.193 sócios) e outubro (11.190 sócios) de 2013. Também dono de um programa mais antigo, o Vasco passou de 6.515 para 13.101 associados no mesmo período.

Menos de um ano após lançar o “Sócio Futebol”, em novembro de 2012, o Fluminense hoje possui 21.017 sócios. “Caçula” da turma, o “Nação Rubro-Negra”, do Flamengo, já conquistou 39.725 sócios desde o seu lançamento em março deste ano. Todos os números são do Movimento por um Futebol Melhor, que dá ainda descontos em produtos de supermercado, incentivando a associação de torcedores.

Descontos, promoções e até direito de voto

Apesar do crescimento simultâneo, as condições oferecidas por cada clube são bem diferentes. No Botafogo, a aposta é em descontos vantajosos no preço dos ingressos. A modalidade “Sem Fronteiras”, destinada, sobretudo, a torcedores que vivem fora do Rio de Janeiro, oferece desconto de 50%. Por R$ 60, a modalidade “Acima de tudo” garante acesso ao setor Oeste do Engenhão e Sul do Maracanã em jogos com mando do clube. Há ainda um plano “de luxo” – o “VIP” – e um destinado a crianças, chamado “Kids”.

A aposta em descontos é parecida com a do Fluminense, embora o Tricolor só tenha uma opção de plano. Com o “Sócio Futebol”, o torcedor paga R$ 29,90 para ter descontos nos ingressos. Com a má fase do time no Campeonato Brasileiro, a diretoria fixou o preço em apenas R$ 2 para os associados durante o mês de setembro. Além disso, os torcedores têm direito a frequentar os espaços da sede ligados ao futebol – loja oficial, museu do clube, etc. – e a votar para presidente após dois anos de adimplência. Este último ponto, especificamente, gerou polêmica na época da aprovação do programa, e o Flu é o único clube a permitir que seus sócios-torcedores votem.

O Vasco é quem menos tem investido no programa de sócio-torcedor. A única modalidade existente chama-se “Vascaíno de Coração”, e oferece como vantagem solitária um guichê exclusivo. O valor é de R$ 20 mensais, além de R$ 15 pela emissão da carteirinha. Somando-se à má fase do time dentro de campo, o clube tem tido uma queda assustadora no número de sócios. Em outubro, 3.625 torcedores cancelaram o plano ou deixaram de pagá-lo.

Quem tem apostado de maneira mais ambiciosa é o Flamengo. O clube cobra R$ 39,90 pelo plano mais barato – o “Raça”, e R$ 199,90 pelo “+ Paixão”, o mais caro. Há, ainda cinco opções intermediárias, nos valores de R$ 69,90, R$ 99,90, R$ 129,90 e R$ 159,90. A vantagem é um desconto de 50% nos ingressos para todas as modalidades. Os torcedores que optarem por pagar mais ainda têm promoções especiais que variam de jogo a jogo, e têm prioridade na hora de garantir presença nas partidas. Para o jogo contra o Goiás, por exemplo, pelas semifinais da Copa do Brasil, os 50 primeiros sócios das duas modalidades mais caras terão desconto integral nos ingressos. Há ainda a possibilidade de adicionar dependentes nos planos mais custosos.

 
Preço Médio
(Em Reais)
56,75

 
131,30

 
29,90

 
20,00

 
Principais vantagens Desconto de 50% (Sem Fronteiras)
e 100% (Acima de Tudo e VIP)
Desconto de 50% (todos os planos) e promoções (Paixão +Paixão) Descontos variáveis e direito de voto Guichê exclusivo
Número de STs
  •  
  • 11.190
  •  
  • 39.725
  •  
  • 21.017
  •  
  • 13.101
Criação Fevereiro de 2010
(3 anos e 8 meses)
Março de 2013
(7 meses)
Novembro de 2012 (11 meses) Maio de 2009
(4 anos e 5 meses)

 

Planos diferentes, problemas semelhantes

Se as diferenças entre as ofertas de cada clube são bem consideráveis, as semelhanças aparecem, sobretudo, nos problemas. Botafogo, Flamengo e Fluminense oferecem a possibilidade de utilizar a própria carteira de sócio-torcedor como ingresso, que é carregado eletronicamente.

Esta vantagem teórica, no entanto, custou a se verificar na prática. Mandando seus jogos no Maracanã desde agosto, o Botafogo só compatibilizou as catracas com a tecnologia utilizada nas carteiras na partida do último domingo, contra o Atlético-MG. A demora, que aconteceu devido à troca da empresa que gere o programa de sócio-torcedor, proporcionou longas filas em todas as partidas do Alvinegro que receberam bom público no Maracanã, e alguma confusão no acesso ao estádio.

O Flu, que também teve muitos problemas na vitória por 1 a 0 sobre o Cruzeiro, no dia 31 de julho, foi mais rápido, e adaptou as catracas ainda no mês de agosto, na derrota para o Santos. O Fla agiu logo em seguida, e implementou sua tecnologia no início de setembro. Todos os clubes, no entanto, ainda têm problemas com filas de sócios que ainda não receberam suas carteiras. O Vasco, que sequer utiliza a tecnologia, também sofreu com muita confusão na retirada de ingressos de sócios no jogo da última quinta-feira contra o Goiás, no Maracanã.

No caso específico do Botafogo, os problemas técnicos foram bastante frequentes no período de troca da operadora do programa de sócio-torcedor. Segundo pesquisa de Caio Araújo, blogueiro do clube no Globoesporte.com, 670 de 1.284 não-sócios entrevistados revelaram não aderir ao programa por falta de benefícios. Entre as reclamações, destacaram-se problemas de pagamento e contato com os associados.

“Fui sócio por 12 meses, nunca recebi o que me foi prometido. Quando meus 12 boletos terminaram, fui à sede pedir mais boletos, pois queria continuar sendo sócio. Por mais incrível que possa parecer, não consegui receber os boletos impressos para pagar. Então desisti”, afirmou o entrevistado Eduardo, de 23 anos.

A demora no recebimento das carteirinhas foi outro ponto recorrente na pesquisa. Outra questão é a ausência de controle no número de ingressos por cada sócio, que ocorreu, sobretudo, enquanto o Maracanã não estava adaptado à tecnologia das carteiras de sócio. No Fluminense, o mesmo problema se verificou.

“Eu já tinha retirado o meu ingresso, mas esqueci na casa de um amigo. Na hora do jogo, eu fui de novo na fila de sócio e retirei outro sem problema nenhum. Acabou que eu só usei um ingresso mesmo, mas uma pessoa mal-intencionada poderia distribuir ingressos para quem quisesse, ou até vender”, revelou Felipe, de 20 anos.

No Flamengo, a ausência de benefícios tem sido criticada por sócios. O estudante de Comunicação Social Daniel, de 21 anos, já teria direito à meia-entrada, mas associou-se ao programa mesmo assim. Ele admitiu que não tem muitas vantagens além da ajuda financeira ao clube do coração.

“Não tem muitas vantagens, não. Nesse quesito eu acho bem fraco. O que tem de desconto é em alguns produtos de mercado e 10% de desconto em qualquer produto na loja da fornecedora de material esportivo. Além do desconto no ingresso, também entrei para ajudar o clube. Mas ainda acho que estão devendo, poderiam oferecer mais vantagens”, criticou.

Torcedores ‘compram’ ajuda financeira a clubes

Em meio a problemas técnicos e benfícios dos mais variados, a ajuda financeira aos clubes, citada por Daniel, é destaque. Em contato telefônico da reportagem do ESPN.com.br com o programa de sócio do Vasco, o próprio atendente “vendeu” o plano como uma medida para ajudar o clube financeiramente. Os próprios torcedores têm ido além, com campanhas como o “Vasco Dívida Zero”, para ajudar a sanar os problemas financeiros cruzmaltinos.

No Flamengo, a ajuda tem sido adotada como estratégia de marketing. Além do próprio vice-presidente do setor, Luiz Eduardo Baptista, ter admitido que o plano era mais vantajoso ao clube do que era aos sócios, os auto-falantes do estádio Orlando Scarpelli proferiram frases neste sentido na partida do dia 5 de junho contra o Náutico.

“Torcedor, ajude a transformar o Flamengo na maior potência esportiva do mundo. Não é do Brasil, não. É do mundo”; “Tem gente que só reclama, reclama, e… na hora de ajudar, cadê?”; “Vai esperar mais quanto tempo?”; “O Mengão está se recuperando, mas todo mundo precisa fazer sua parte”; “Não pode só torcer. Tem que fazer alguma coisa” foram algumas chamadas utilizadas. O perfil do clube no Twitter também tem sido utilizado para campanhas desta natureza.

Os números, no entanto, mostram que Vasco e Flamengo não erram no “approach”. Se o “Vascaíno de Coração” tem apresentado queda, o Vasco Dívida Zero já arrecadou quase R$ 750 mil em dívidas sanadas desde junho de 2013. O Flamengo, mesmo com o plano mais caro e mais novo, já soma quase o dobro do número de sócios-torcedores do segundo colocado Fluminense, e segue crescendo.

Mas o número mais representativo a esse respeito vem do Botafogo. 596 dos 673 sócios-torcedores entrevistados por Caio Araújo (89%) classificaram a possibilidade de ajudar o clube financeiramente como ponto positivo do programa. Um alento para os clubes e para os torcedores na luta, como diz a campanha, por um futebol melhor.

Notícias relacionadas