Jogos do Botafogo em Manaus em 2014 podem ter sido usados para pagamento de propina, investiga PF

Jogos do Botafogo em Manaus em 2014 podem ter sido usados para pagamento de propina, investiga PF
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Além de viagens em aviões particulares e um relógio de luxo, a Polícia Federal (PF) suspeita que, em outubro de 2014, duas partidas na Arena Amazônia envolvendo o Botafogo, do Rio, tenham sido usadas como pagamento de propina para o entorno do ex-governador do Amazonas, Omar Aziz (PSD), atualmente senador pelo estado.

Relatório obtido pelo UOL, em que as autoridades transcrevem telefonemas e mensagens em celulares apreendidos, mostram um médico e empresário, Mouhamad Moustafa, negociando repasses e presentes para a família de Omar, incluindo a transferência de R$ 1,5 milhão para o clube carioca.

Mouhamad Moustafa tinha um contrato de R$ 276 milhões para gerenciar unidades estaduais de saúde do Amazonas, e o empresário Murad Aziz, irmão do ex-governador, é apontado como um dos organizadores das partidas em Manaus.

Em um dos diálogos, Murad dá as instruções para que Mouhamad transfira o dinheiro para uma conta do Botafogo e pede:

“Me passa o comprovante assim que vc fizer [a transferência] senão eu perco isso”.

PF: irmão do ex-governador Omar Aziz pediu a médico que tinha contrato com o estado que pagasse R$ 1,5 mi ao Botafogo

Pelo tom da conversa, Mouhamad Moustafa, médico dono do INC (Instituto Novos Caminhos), contratado pelo governo do Amazonas, e o irmão do ex-governador Aziz eram amigos e faziam brincadeiras sobre futebol. O médico chega a ameaçar, em tom de brincadeira, que não faria a transferência, impossibilitando a partida e “mandando o Botafogo novamente para a segunda divisão”.

Mas segundo os investigadores, o pagamento aconteceu.

Comprovante de transferência de empresário contratado pelo governo do AM para o Botafogo – que jogou no estado semanas depois

Nos arquivos, a PF afirma ter localizado imagens de comprovantes de transferência bancária, um deles no valor de R$ 500 mil, partindo de Mouhamad e tendo como favorecida a “Companhia Botafogo”.

Com essas transferências, a polícia acredita que Mouhamad, que recebia repasses da Secretaria Estadual de Saúde, estava assumindo gastos da empresa de Murad.

A sequência temporal apontada pela PF é:

  • 2 de setembro de 2014 – Murad Aziz, irmão de Omar Aziz, pede ao empresário Moustafa o comprovante da transferência
  • 8 de setembro de 2014 – Moustafa faz transferências para a conta do Botafogo
  • 11 de outubro de 2014 – Botafogo enfrenta o Corinthians na Arena Amazônia
  • 25 de outubro de 2014 – Botafogo enfrenta o Flamengo na arena

Em depoimento à PF, em outubro do ano passado, o irmão de Omar disse que o médico havia investido, por vontade própria, nas partidas do Botafogo.

A defesa de Moustafa, preso por condenações referentes em outras etapas da investigação, afirma que o médico é inocente e recorre.

Financiamento de partida

A PF ouviu um dos organizadores de duas partidas do Botafogo em Manaus em 2014, a M1 Eventos.

Segundo a polícia, a empresa diz que os jogos foram realizados em parceria com o empresário Murad Aziz, a quem caberia arcar com R$ 1,5 milhão — justamente os valores transferidos ao Botafogo pelo médico Mouhamad.

A M1 eventos diz que não conhece Mouhamad, e afirma acreditar que o pagamento do valor tenha sido feito por Murad.

“Com isso, reforça-se a tese que Mouhamad investiu nos referidos eventos como forma de pagamento de propina para Murad”, afirma trecho do inquérito da PF.

Os jogos em questão eram partidas do Botafogo contra o Corinthians e do Botafogo contra o Flamengo. Nos dois, o Botafogo, time do coração da família Aziz, tinha o mando do campo.

Em outro trecho, a PF conclui: “Isto revela que Mouhamad era associado oculto de Murad, não sendo tratado como parceiro no empreendimento, o que reforça a hipótese de que Mouhamad bancava os projetos de Murad, não obstante o risco inerente do negócio, justamente como forma de entregar vantagens indevidas”.

Outro Lado

A PF relata que os investigados, em depoimentos, negaram participação em atividades ilícitas. Admitiram apenas transações oficiais na relação com o empresário.

Procurado, o Botafogo não se manifestou até a publicação deste texto.

A assessoria de comunicação do senador Omar Aziz afirmou que não há nos autos do inquérito qualquer indício que seja “de materialidade capaz de sustentar esse indiciamento”.

O senador sustenta ainda, por meio de sua assessoria, que “caso esse assunto venha a ser debatido em processo, com direito ao contraditório e ampla defesa, ficará comprovada a insubsistência facto jurídica tanto do relatório quanto do indiciamento”.

A defesa de Moustafa afirmou que não iria se manifestar sobre o caso, já que o inquérito está em sigilo de Justiça.

Fonte: UOL

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