O sonho de ser jogador de futebol quase foi interrompido precocemente quando Ênio, de apenas 7 anos, recebeu a notícia que seu pai havia morrido vítima de um AVC (Acidente Vascular Cerebral). Vanderlei, de 45 anos, tinha que ir ao depósito onde sempre buscava os produtos a serem vendidos mais tarde em sua barraquinha, na rodoviária de Duque de Caxias, município do Estado do Rio de Janeiro. Se despediu dos filhos e partiu para mais uma jornada.
Horas depois no mesmo dia, um dos sete filhos de Vanderlei recebeu a notícia da tragédia que assolou sua família. A meta de viver de futebol, compartilhada com o pai, teria que seguir sem um dos maiores incentivadores. Ênio, por outro lado, ainda tinha seus irmãos Marília, Marilaine, Maricleide, Marlen, Marlison e Kauane, além, é claro, da mãe Luzanira, comerciante e que assumiu a bronca de criar os filhos sozinha.
Vanderlei chegou a ver o menino caçula no futsal do Duque de Caxias, mas já não estava presente quando o filho entrou para o Fluminense, seu time do coração. Ênio ficou em Xerém por quase uma década até ser dispensado. Foi para o Vasco, mas não teve muito tempo em São Januário. Somente em 2015, no Botafogo, ele iniciou a trajetória que tem mudado a sua vida.
“Ele trabalhava na rodoviária vendendo biscoito, guaraná, esses tipos de coisas, na barraca e quando estava buscando a mercadoria no depósito teve um AVC do nada e… Dois amigos deles chegaram lá em casa e avisaram. Minha mãe não quis me falar o que era e fiquei sabendo pelo meu irmão. No momento pensei em largar tudo, mas depois vi que tinha força para continuar. Tenho minha mãe do meu lado, que sempre batalhou. Eu ia batalhar por eles. Quando fiquei sabendo que ele tinha morrido, meu mundo acabou. Tínhamos uma relação muito boa e pensei em desistir. Não poderia dar essa tristeza para minha mãe. E sei que meu pai também está sempre comigo, né?”, disse Ênio ao UOL Esporte.
“Hoje sou eu, minha mãe e mais seis irmãos. Ela tem que tomar conta de tudo. Era todo muito muito novo quando perdemos meu pai. Então, minha mãe teve que assumir todo mundo. É ela para tudo, tudo mesmo. Já fez muito por mim e quem tem que fazer por ela sou eu. Tenho que dar suporte para a família e ajudar bastante dentro de casa porque minha mãe merece muito. Ela batalhou muito e quero conquistar meus objetivos para dar muitas coisas para ela”, completou.
O jovem atacante brilhou pelo Botafogo nas duas últimas edições da Copa São Paulo. Neste ano, marcou quatro gols e foi o principal destaque alvinegro. Prova disso é que ele foi escolhido pela comissão técnica para compor o elenco principal nos dois primeiros jogos do Carioca. Apesar dos holofotes, Ênio ainda tem um longo caminho a percorrer. Morador de Duque de Caxias, ele vai de trem para os treinamentos. O atleta, inclusive, teve um pequeno atraso para a entrevista após o veículo quebrar durante o percurso — completou a viagem com um carro de aplicativo.
“Passei muita dificuldade, muitos amigos me ajudaram. Lembro sempre de cada um que me ajudou. Tinha vezes que minha mãe não tinha condições de ir e eu falava para ela ficar tranquila que ia sozinho, mesmo sendo muito novo. Temos que dar um jeito. Quem quer, precisa dar um jeito. Pegava dinheiro com meu padrinho, amigos, irmãs. E lembro sempre disso como incentivo”, afirmou.
Hoje (18), às 18h (horário de Brasília) Ênio estará no banco de reservas da partida contra o Volta Redonda, no Raulino de Oliveira. Chance mais que importante para que vê clara evolução na carreira.
“A comissão técnica do profissional está sempre buscando informações da base. Ser relacionado para um jogo profissional é uma oportunidade muito grande para mim. A qualquer momento pode pintar uma oportunidade de entrar em campo e tenho que estar pronto para encarar as adversidades, importante. A torcida tem um carinho especial pela garotada da base. Temos que estar preparados para encarar todos os jogos. Tem Carioca, Brasileiro. Vamos ver… Vemos Luís Henrique, Rhuan , Caio Alexandre, Lucas Barros que são espelhos por já estarem nos profissionais”, finalizou.