Santos x Botafogo: clubes tomam caminhos bem diferentes desde 1995

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Por FogãoNET

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Santos x Botafogo: clubes tomam caminhos bem diferentes desde 1995
Vitor Silva/Botafogo

Por muito tempo, o Botafogo foi o Santos do Rio e o Santos, o Botafogo de São Paulo. Compartilhavam orgulhos e angústias semelhantes nos dois principais centros do país. Garrincha de um lado, Pelé do outro nos anos dourados da década de 1960. A escassez de títulos nos anos 1980. Chegaram à decisão do Campeonato Brasileiro de 1995 com dois times talentosos que sofriam de um mal comum: a falta de infraestrutura para trabalhar. O Botafogo com seus quatro meses de salários atrasados. O Santos com seus treinamentos na praia do Gonzaga por não ter campo para treinar.

Alguma coisa aconteceu depois daquela decisão no Pacaembu que os destinos dos clubes se afastaram a ponto de neste domingo, às 16h, na Vila Belmiro, um olhar para o outro e não se reconhecer mais. Os paulistas acabam de chegar à final da Libertadores pela segunda vez em dez anos. Os cariocas possuem 98% de risco de serem rebaixados para a Segunda Divisão pela terceira vez.

A explicação está na revelação de jogadores. Com capacidade de arrecadarem recursos com patrocínios e direitos de TV ainda semelhante, fruto de um número de torcedores cada vez menos parecido, o que diferencia é o caminhão de euros que esporadicamente estaciona na frente da Vila Belmiro:

Evolução da torcida (DataFolha) Santos x Botafogo

Percentual da torcida em 1993: 3% x 2%
Número total de torcedores em 1993: 4,68 milhões x 3,12 milhões
Percentual da torcida em 2019: 3% x 1%
Número total de torcedores em 2019: 6,3 milhões x 2,1 milhões

— O Santos é um clube que está em dificuldade financeira, arrecada pouco. Até setembro de 2020, foram R$ 127 milhões, com R$ 550 milhões em dívidas no exercício — afirma Rodrigo Capelo, especialista em finanças de clubes. — Mas ele conseguiu vender jogadores, em especial o Rodrygo, e com esse dinheiro entrando todo de uma vez, em 2019, o Sampaoli pediu para comprar jogadores, o que a diretoria fez. Esse resultado que se vê é o legado dos investimentos de 2019.

Já o Botafogo não revela um jogador de nível de seleção brasileira desde Josimar, lateral-direito que disputou a Copa de 1986. Nos últimos anos, o clube tem tentado melhorar o desempenho de suas categorias de base e, consequentemente, o valor de suas promessas. Luis Henrique, negociado ao Olympique de Marselha (FRA), rendeu cerca de R$ 25 milhões. Mas o dinheiro foi usado para pagar as contas atrasadas e não para investir no nível do elenco.

Número de jogadores formados no clube convocados para a seleção em competições oficiais (Copa do Mundo, Copa América e Copa das Confederações) no século XXI

Santos: 8 (Robinho, Diego, Elano, Gustavo Nery, Alex, Neymar, Ganso e Gabigol)
Botafogo: nenhum

Atualmente, o Santos também convive com salários pendentes e dívidas que fizeram com que fosse punido pela Fifa. Mas quando teve a chance, usou o dinheiro das revelações e melhorou sua infraestrutura. O ex-meia Robert, jogador de destaque do Santos de 1995, vê nesse investimento uma explicação para a disparidade atual entre os clubes:

— O Santos tem uma capacidade de se reinventar. Depois de 1995, começou a se reestruturar, a dar condição mínima de treinamento. Coma venda dos jogadores daquele time de 2002 (destaque para Robinho, Diego e Elano), o Marcelo Teixeira (ex-presidente do clube) modernizou o CT e o Santos virou um clube com estrutura muito forte.

Para Wilson Gottardo, zagueiro campeão com o Botafogo em 1995, o clube demorou para perceber que o futebol havia mudado:

— Alguns clubes começaram, na década de 1990, a tentar um processo de reestruturação. Investiram na base. Foram os que perceberam que não poderiam viver apenas de receita de jogos e se atentaram a outros processos. Muitos estão correndo atrás agora, mas a discrepância atual é maior. Quem se estruturou na época está colhendo os frutos.

Fonte: O Globo Online

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