A final da Libertadores no Maracanã entre Palmeiras e Santos é histórica por si só. Será a primeira vez que um time brasileiro levantará o troféu de campeão no icônico estádio. E o fato de nenhum dos dois postulantes ao feito ser carioca, mas paulistas, também merece atenção. O jogo do próximo dia 30 é um reflexo do desequilíbrio de forças entre Rio e São Paulo no cenário internacional e nacional no século XXI em comparação com as últimas duas décadas do século XX.
De 1981 a 2000, o país viu o Flamengo de Zico e o Vasco de Juninho ganharem a América quase na mesma proporção que o São Paulo de Telê Santana e o Palmeiras do goleiro Marcos e Felipão.
Dentro de casa, o placar, inclusive, foi favorável aos cariocas. Por nove vezes, a taça do Brasileiro ficou no Rio pelos pés de Zico, Washington e Assis, Roberto Dinamite, Júnior, Túlio, Romário e Adriano. Do lado dos paulistas, Careca, Neto, Raí, Edmundo, Evair, Marcelinho Carioca e Edílson foram alguns dos responsáveis pelas sete conquistas nas duas décadas.
À espera de um milagre
A ponte aérea equilibrada, contudo, não virou o século. O maior poderio econômico do principal estado do país prevaleceu tanto no contexto continental quanto no nacional. Só o rico Flamengo de 2019 conseguiu entrar no seleto grupo de campeões da Libertadores entre 2001 e 2020. O Rio não só ficou atrás de São Paulo, com quatro conquistas (já contando a edição atual) como também de Porto Alegre, com três.
O comentarista Pedrinho, campeão da Libertadores pelo Vasco e que jogou nos anos 2000 no Palmeiras e no Santos, vivenciou de perto a diferença estrutural entre os clubes do Rio e São Paulo. Questões sanadas em parte pelos cariocas, mas que cobraram o preço dentro de campo nas duas últimas décadas:
— Quando fui para lá já tinha CT, staff de fisiologia, preparação física, hotel para concentração. O Rio não tinha nada. Demoraram a perceber que o futebol estava se profissionalizando e se organizando fora de campo. Isso deu essa vantagem vista agora aos times paulistas.
— São Paulo, do ponto de vista econômico, sempre conseguiu crescer ou se manter apesar das crises do país. O Rio se tornou uma cidade com menos condições de investimento. Mas não é só isso. Os clubes cariocas esperam muito do poder público ou de um grande investidor. Ficam à espera de um milagre que não existe. Não existem benfeitorias, mas trabalho — analisa o comentarista do Sportv, Paulo Vinícius Coelho.
O milagre ficou longe de acontecer no século atual, principalmente para Vasco e Botafogo. O Fluminense conseguiu dois títulos brasileiros e uma final de Libertadores na esteira da Unimed. O Flamengo abocanhou um troféu em cada década, o do ano passado já como resposta aos anos de reconstrução.
PVC enumera problemas como a dependência de Fla e Flu do Maracanã, que é do estado, a expectativa de projetos de lei, como fez o Botafogo em 2014 com o Profut.
— O Flamengo está rompendo com isso agora. Para reverter isso, os cariocas precisam olhar para os seus problemas, entender as melhores soluções e o resultado aparecerá em cinco anos. Mas dá trabalho.