O Botafogo entra em campo hoje, às 18h30m, no Maracanã, para enfrentar o líder Cruzeiro. É o primeiro jogo entre os clubes desde o confronto pela terceira rodada do returno do Campeonato Brasileiro do ano passado, quando o alvinegro fazia bom jogo até Seedorf perder um pênalti. O time foi derrotado por 3 a 0 e terminou ali sua boa fase na competição, enquanto o adversário decolou de vez rumo ao título.
Na atual realidade, remoer o passado virou perda de tempo. Em gravíssima situação financeira e com a vida política conturbada, não é exagero dizer que o objetivo deste ano é um só: evitar a queda para a Série B. No próximo ano, um novo presidente assumirá, o que deverá renovar a esperança. Sem as receitas da presença na elite do futebol brasileiro, no entanto, um recomeço seria mais difícil.
O futuro do Botafogo passa pelos pés de um grupo de jogadores que não recebe integralmente o salário há cinco meses. Cansados de promessas, a insatisfação com a direção do clube é enorme.
O técnico Vágner Mancini está preocupado com a possível debandada do elenco. Na próxima quinta-feira, será o quinto dia útil do mês. Na data, os jogadores completarão o terceiro mês sem os vencimentos na carteira de trabalho. No mesmo dia, pela manhã, o clube tentará desbloquear suas receitas no Tribunal Regional do Trabalho do Rio (TRT-RJ). À tarde, o presidente Maurício Assumpção vai se explicar ao Conselho Deliberativo do clube.
— Não tem como ficar alheio ao que está acontecendo. É uma situação gravíssima, mas espero que não aconteça (a saída de jogadores). Espero que seja solucionado, mas tudo na vida tem limite e não sabemos até quando aguentarão. O ambiente é maravilhoso, mas vai chegar um momento em que vai ficar mais difícil. Antes disto, temos que dar tudo dentro de campo — afirmou o técnico.
Os atrasos tiram a concentração do grupo. Embora ressaltem o próprio profissionalismo, os jogadores são obrigados a falar diariamente sobre salários, e as conversas com dirigentes também são constantes. Perguntado sobre até onde vai seu limite, Mancini falou em colapso do Botafogo.
— Sou um cara muito otimista. Vou tentar que o limite seja o mais longo possível. Eu estou há quatro meses no clube, mas tem jogador com seis meses de salários atrasados. É inadmissível que a gente conviva com o colapso de um clube com esta tradição e camisa — afirmou.
Rogério estreia ao lado de Emerson
O treinador acredita que o Botafogo não está sozinho nesta crise, que envolve todo o futebol brasileiro. Para ele, que é vice-presidente da Federação Brasileira de Treinadores de Futebol, chegou a hora de jogadores, técnicos, dirigentes e imprensa se unirem em torno de uma causa.
— Todas as partes deveriam fazer uma reflexão, sentar e dialogar. Temos que pensar onde vamos parar assim. Vai chegar uma hora em que não só um clube ou outro, mas todo o futebol brasileiro vai entrar em colapso — avaliou Mancini. — Esta situação não começou em 2014, e os reflexos estão chegando dentro de campo, como vimos na Copa do Mundo.
Se a situação do Botafogo ajudou em alguma coisa foi para aproximar torcida e jogadores. Depois da faixa de protesto do elenco, levada a campo antes do clássico contra o Flamengo, ter sido criticada pelo diretor de futebol Wilson Gottardo, os torcedores responderam. Ontem, uma nova faixa de protesto foi aberta, desta vez no Engenhão. Nelas, os torcedores deixaram claro o lado que escolheram: “Estamos aqui por amor ao Botafogo e para apoiar vocês, jogadores. Jamais por esta diretoria amadora! Joguem por nós!”
Horas depois, pela segunda vez na semana, torcedores organizados invadiram a sede de General Severiano e foram contidos por policiais. Nas duas vezes, buscavam por Maurício Assumpção, que não estava no local. No Maracanã, novos protestos são esperados. Os ingressos mais baratos custam R$ 40 (R$ 20 a meia).
Em campo, o time terá a estreia do atacante Rogério, emprestado pelo Náutico. Ontem, o peruano Ramírez, emprestado pelo Corinthians, acertou com o clube, mas ainda não treinou. Mancini não escondeu que vai mudar o estilo de jogo do alvinegro para encarar o Cruzeiro.
— Diante de alguns rivais, é importante tirar espaços e retrair seu time para fazer com que o adversário jogue de uma maneira diferente. Se você der o panorama normal para ele, não vai ter chance — explicou.
Botafogo x Cruzeiro
Botafogo: Jefferson, Lucas, Bolívar, Dória, Júnior César; Gabriel, Bolatti, Edílson e Carlos Alberto; Rogério e Emerson.
Cruzeiro: Fábio, Mayke, Dedé, Leéo e Egídio; Henrique e Lucas Silva; Éverton Ribeiro, Ricardo Goulart e Marquinhos; Marcelo Moreno.
Juiz: Luiz Flavio de Oliveira (SP).
Local: Maracanã.
Horário: 18h30m.
Transmissão: Premiere e Rádio Globo.