Kanu atende às perguntas depois do jogo contra o Madureira, em que o Botafogo virou a partida e venceu por 4 a 2. O repórter de campo pede para o zagueiro fazer um resumo de como estava sendo o desempenho do time neste começo de temporada. Pode ter sido apenas coincidência. Ou um indicador de algo diferente. O fato é que o zagueiro responde citando, indiretamente, John Textor.
– Estamos tentando entender o processo da conversão para SAF. Queremos que seja o mais positivo possível. Que a SAF se torne realidade o mais rapidamente possível.
A entrada do novo dono do alvinegro na fala do jogador, um dos líderes do elenco, mostra como o departamento de futebol do Botafogo tenta lidar com a nova realidade que promete revolucionar sua vida.
John Textor já vetou contratações de jogadores sem que seus homens de confiança de scout dessem um parecer a respeito. Com isso, indiretamente, desautorizou os tomadores de decisão atuais, os mesmos que montaram o elenco que foi campeão da Série B ano passado.
É o grosso desse elenco, com algumas saídas e chegadas, que disputa o Campeonato Carioca. É impossível que não estejam sob a avaliação desses olhos a mando de Textor. Nas primeiras entrevistas depois do acerto com o Botafogo, o americano deixou nas entrelinhas que não necessariamente os jogadores que triunfaram na Série B seguiriam nos planos na primeira divisão.
O Botafogo que tem entrado em campo no Carioca está sob responsabilidade dupla: disputa a competição e a confiança de um novo patrão com o qual não possuem vínculo algum. A tendência é que a história que construíram no Botafogo até hoje não migre como se fosse um ativo para SAF. Carli, por exemplo, referência da torcida, vai na contramão do que John Textor já defendeu como ideal de time de futebol: está na reta final da carreira e fisicamente não tem o mesmo vigor de outros tempos. Bom para ele ter feito um gol na vitória sobre o Madureira.
Textor é um defensor da formação de talentos e vislumbra o Botafogo fazendo parte de uma rede internacional de clubes. Atualmente, o maior ativo alvinegro é Matheus Nascimento. Contra o Madureira, fez boa partida. Aos 17 anos, terá tempo para ser lapidado ainda mais por esse novo Botafogo, mais global.
O maior desafio para o Botafogo neste momento é, como Kanu destacou, fazer com que essa transição para a SAF seja a melhor possível. E isso pode significar um processo que seja percebido pelos jogadores como mais natural e menos de ruptura.