Jornalista especializado em finanças do esporte, Rodrigo Capelo publicou em sua coluna no jornal “O Globo” um interessante debate sobre quanto as SAFs pagaram para adquirir Botafogo, Cruzeiro e Vasco, os primeiros três grandes casos no futebol brasileiro. Ele tomou como base o primeiro balanço divulgado pelos clubes.
Na época das negociações, em dezembro de 2021, a notícia é de que John Textor compraria 90% das ações da SAF do Botafogo por R$ 400 milhões. Porém, com a promessa de pagar as dívidas do clube associativo, esses valores com certeza são bem maiores, aponta Capelo.
“No Botafogo SAF, John Textor concordou com a transferência de até R$ 900 milhões para pagamento das dívidas do Botafogo de Futebol e Regatas, corrigidos anualmente pela Selic. No Cruzeiro, Ronaldo topou mandar até R$ 682 milhões à associação, para que ela cumpra o plano de sua recuperação judicial. No Vasco, a 777 Partners assumiu o pagamento da dívida, com o teto de R$ 700 milhões“, escreveu Capelo.
O jornalista fez também uma analogia.
“Suponhamos que você vendeu um imóvel, mas não vai receber dinheiro por ele. Em troca, o futuro dono assumiu a dívida zilionária que você havia feito ao não pagar impostos. Ele vai encarar o problema; comprou pelo valor da dívida. O diferencial, no caso peculiar do futebol brasileiro, é que as associações venderam o controle do futebol para se livrar das dívidas e ainda impuseram obrigações em termos de investimentos“, diz Capelo, completando:
“Textor precisa aportar R$ 400 milhões do bolso dele na SAF do Botafogo. Ronaldo, R$ 50 milhões no Cruzeiro. A 777, R$ 700 milhões no Vasco. É como se você gostasse tanto daquele imóvel que vendeu, que, além de passar a dívida, obrigou o novo dono a investir na reforma da casa inteira.”
Como o fenômeno das SAFs ainda é relativamente novo, e os clubes mesmo nesse regime já mostraram algumas dificuldades financeiras, o jornalista encerra o texto dizendo que ainda é difícil precificar cada venda.
“Quando se entende a diferença entre dívida e investimento, fica mais fácil chegar às questões que seguem sem respostas. O que acontece com o Cruzeiro, se os R$ 682 milhões não forem suficientes para pagar a dívida? A associação celeste não tem receitas relevantes. Qual será o impacto da transferência de até R$ 900 milhões na SAF do Botafogo? Esse dinheiro deixará de ser usado pela empresa no futebol. Já o problema do Vasco não é a quantidade de grana, mas o que se faz com ela. Em todos os casos, a consequência prática desses números no futebol é o que realmente importa“, encerrou Capelo.