A entrevista de John Textor, acionista majoritário do Botafogo, para o FogãoNET repercutiu bastante. Um dos principais temas abordados foi a Lei da SAF e como ela ainda não é respeitada no Brasil, com diversos juízes não a levando em consideração.
Como no caso de penhoras, em vez de respeito ao Regime Centralizado de Execuções (RCE), como determina a Lei da SAF.
Jornalista especializado em negócios no esporte, Rodrigo Capelo analisou no programa “Redação SporTV” desta quarta-feira (25/1) as falas do empresário norte-americano. Ele colocou o Botafogo como uma espécie de “cobaia” por ser uma das primeiras SAFs e questionou o senador que criou a lei.
🎙️ Leia alguns trechos abaixo:
– John Textor deu uma entrevista ontem, em live ao FogãoNET, e falou sobre diversos assuntos, desde contratação de jogadores até a constituição da SAF, um assunto um tanto quanto controverso até pela maneira como ele tratou (…) Foi uma entrevista que neste ponto especificamente foi bastante incisiva e deve ter magoado senadores e juízes (…) Textor mostrou o traço impulsivo da personalidade dele, ele fala sobre esses assuntos com muita clareza, muito abertamente. Sou sempre favorável à transparência, mas nesse caso ele pode incomodar justamente as pessoas que estão julgando o Botafogo.
– A gente sabe que não tinha como Botafogo ficar como estava, com R$ 1 bilhão em dívida, com um gestão desastrosa, na Série B, sem capacidade de competir e pagar essas dívidas. Alguma coisa tinha que ser feita. Tem um processo e esse processo vai adiante, com erros e acertos, de todas as partes, do governo, de quem está montando essas leis e dentro do clube também. Eu entendo que o que é importante é ter essa vigilância para ficar em cima para entender o que está acontecendo e qual vai ser a solução dada para essa situação. O Botafogo de hoje, a SAF Botafogo, eu vejo muito melhor que o Botafogo anterior, o Botafogo associação. Primeiro porque recebeu investimento, é um dinheiro que veio de fora e não entraria se não fosse o Textor. Isso tem que ser colocado sempre. Qualificou o time a ponto de voltar à Primeira Divisão e não ficar lutando para não cair. Só isso é uma melhora muito grande. As pessoas que estão na administração, o John Textor e o Thairo Arruda, são profissionais, não são mais aqueles conselheiros amadores metendo o bedelho e achando que poderiam ser técnicos. Teve conselho amador que já disse isso. Eu vejo como uma evolução, mas não quer dizer que a gente vai fechar os olhos, não fazer críticas e não acompanhar o que está dando de errado.
– A fala do Textor de que ele não pagará mais o RCE enquanto não tiver um tipo de emenda, me parece mais uma fala impulsiva em uma entrevista tentando prestar contas para torcedor do que algo que vai acontecer de fato. Porque se ele parar de cumprir as regras do RCE e, de alguma maneira for punido, e começar a receber as execuções, ele vai estrangular o caixa da SAF. Acho que isso não pode acontecer. Se ele está pensando na solução da recuperação judicial ou extrajudicial, é um movimento que ele próprio vai ter que tomar. Agora, tem muita gente para questionar, como o senador Carlos Portinho, que na hora da Lei da SAF foi feita e depois quando chegou o Textor disse que o futebol brasileiro era um sucesso e que tinha sido revolucionado. Onde está o senador agora com a própria lei sendo criticada? Por aquele que supostamente ele “trouxe”, que é o proprietário. O próprio governo, o mercado, todo mundo está olhando para esse processo para ver o que vai acontecer. Isso tem muita importância para outras SAFs, porque outros possíveis donos de clube-empresa estão olhando e podem pensar: “Espera, esse modelo não é muito bem confiável. O Textor chegou e olha o que aconteceu”. Então, a gente está passando por um momento muito importante do futebol brasileiro e o Botafogo, por ter começado esse processo antes, por ter saído na frente anos atrás com as histórias da S.A e da SAF, ele vai servir como “cobaia”, como experimento disso, vai mostrar para os outros como é que funciona.
Ao dizer que "a Lei da SAF está quebrada", Textor é o primeiro proprietário de clube-empresa a reclamar do modelo adotado pelo futebol brasileiro. Se você ainda não entendeu a controvérsia, divido contigo conteúdos que produzimos no @sportv e no @geglobo e faço um resumo aqui. 👇🏻 pic.twitter.com/rt6mYwr7KI
— Rodrigo Capelo (@rodrigocapelo) January 25, 2023
Só que o mecanismo já surge com problemas. Todos os credores de natureza trabalhista e cível são forçados a entrar na fila? Eles têm direito a recusar os termos apresentados – descontos e prazos? Quais receitas a SAF entrega? O mau trabalho dos legisladores deixou várias lacunas.
— Rodrigo Capelo (@rodrigocapelo) January 25, 2023
O resultado é problemático porque prejudica todo mundo. Alguns credores do Botafogo aguardarão por até dez anos, enquanto outros encontram meios para receber já. Já a SAF não pode contar com determinadas quantias, que poderiam ser usadas no futebol, em custos ou investimentos.
— Rodrigo Capelo (@rodrigocapelo) January 25, 2023
Onde anda o senador Portinho, que tenta a todo custo tirar dividendos políticos da Lei da SAF, apesar dos buracos nela? Muita gente precisa ser questionada. Pois bem. Seguiremos acompanhando a história. Recomendo também a leitura do texto no @geglobo. >>> https://t.co/rR5n7pn2tl pic.twitter.com/zIIN0AkjCB
— Rodrigo Capelo (@rodrigocapelo) January 25, 2023