Botafogo e Cruzeiro ganharam um sopro de esperança na última semana, com anúncio da XP Investimentos como parceira na busca pela captação de receita – sobretudo do exterior – para se tornarem clube-empresa, ou Sociedade Anônima do Futebol. Entretanto, nem tudo é simples. Em sua coluna em “O Globo”, o jornalista Rodrigo Capelo, especializado em negócios, fala sobre o assunto.
Capelo conversou com Pedro Mesquita, da XP, que trata o tema como uma “revolução para o futebol brasileiro”. A ideia é que os clubes tenham nova estrutura, não sendo constituídos apenas por seus associados.
– Parte do capital da SAF será vendida para terceiros. Pode ser um empresário que cansou do mecenato e quer ser proprietário. Torcedor rico. Pode ser um fazendeiro do Mato Grosso que quer diversificar negócios. Podem ser companhias ou fundos estrangeiros que correm riscos elevados para multiplicar seus investimentos. A XP prefere o último – explicou Capelo.
Entretanto, o jornalista desconfia da chegada de investidores do exterior.
– Não duvido que Botafogo e Cruzeiro valorizarão, quando voltarem à primeira divisão e estiverem com finanças organizadas. Mas por que um estrangeiro entraria no Brasil por meio de negócios tão arriscados? Por que adquirir clubes endividados na casa do bilhão? Mesmo após a negociação centralizada, ferramenta criada para a SAF, clubes-empresas terão de mandar parte das receitas para pagar dívidas da associação. Por que o investidor dividiria o controle com as associações (e seus conselheiros)? Por mais que haja promessa de autonomia, interferência política significa risco – argumentou Capelo, que citou também outros fatores de insegurança do futebol brasileiro, como ausência da liga de clubes e de fair play financeiro para inibir a inflação, desrespeito a contratos e leis, corrupção endêmica e ingerência de federações estaduais.
Para o jornalista, a escolha dos clubes de mudança na gestão tem um motivado específico.
– Os clubes-empresas existirão, porque Botafogo e Cruzeiro estão interessados na renegociação forçada das dívidas. Assunto para outra coluna. Pode ser que mecenas participem do negócio. Talvez um fazendeiro mato-grossense, iludido com a “paixão nacional”. Dólares e euros estrangeiros, só acredito quando caírem na conta – completou.