* São inúmeros os problemas do Botafogo no declínio no Campeonato Brasileiro. Vamos tentar focar aqui em um específico, que tem a ver com a parte tática. O time simplesmente mudou sua forma de jogar do início da competição para cá.
* O Botafogo era uma equipe que controlava os espaços. Ganhava jogos tendo menos posse de bola. Não tinha vergonha de se fechar, de se defender, congestionar o meio e forçar os adversários a tentarem cruzamentos, com a zaga bem postada. Era a senha para Adryelson ser o jogador com mais rebatidas no campeonato. Era uma proteção a Lucas Perri, que ainda assim se destacava quando acionado. Era uma segurança para Victor Cuesta, que não ficava exposto.
* Não à toa, o Botafogo era o time com menos desarmes no campo de ataque. Era estratégico, baixar as linhas e se proteger, até para buscar as transições, ponto forte alvinegro. Fazia sentido também porque os jogadores de ataque, Tiquinho Soares e Eduardo, não têm tanta força física para o perde e pressiona.
* Quando Bruno Lage chegou, tentou implementar seu estilo, “mais pressionante”, com avanços da linha. Em vez de controlar os espaços, a tentativa era controlar a bola. Não deu certo.
* Aqui cabe uma ressalva. Com Luís Castro, o Botafogo controlava os espaços nos jogos mais complicados, nos clássicos, nos duelos com grandes adversários fora de casa. Em partidas menos duras, sobretudo em casa, unia controlar espaços com controlar a bola, atingindo seu auge.
* Só que o novo estilo, a partir de Lage, trouxe problemas graves ao Botafogo. O time passou a ficar exposto e a ser atacado “por dentro”, seja com lançamentos nas costas da defesa, com infiltrações ou com tabelas. Antes, víamos os jogos com a certeza de ver uma organização defensiva, agora parece uma “pelada” em determinados momentos. O Botafogo se lança ao ataque, até faz uns gols, e fica aberto a ser vazado.
* Com Lucio Flavio como técnico, esperava-se uma volta do velho do Botafogo. “Era só fazer o que vinha dando certo”. No papel, ele até buscou repetir o time. Em campo, começou reativo contra Fluminense e América-MG. Depois, tudo mudou.
* O Botafogo colocou na cabeça uma obrigação de atacar e se impor no jogos seguintes. Só que parou de controlar bem os espaços. Algo que fica nítido nos gols sofridos diante de Athletico-PR, Cuiabá, Palmeiras, Vasco e Grêmio. E até na expulsão de Adryelson contra o Palmeiras.
* Um exemplo claro – e péssimo – é como Victor Cuesta está simplesmente abandonando a linha de quatro defensiva para tentar dar botes (errados). Foi assim contra o América-MG e contra o Athletico-PR, teve também em outros jogos. Por quê? O papel dele é fechar o centro da zaga com Adryelson e cortar as bolas dali, ganhar duelos, se impor. Parou de fazer isso.
* Outro que era excelente no controle de espaço, Lucas Perri, está visivelmente abalado, nervoso e perdido. Tem errado em posicionamento, em saídas em lançamentos nas costas da defesa e em não saídas em cruzamentos. Piorou após uma falha gritante do Cuiabá, leu bem a hora de sair, errou o gesto técnico ao dar carrinho e chutar a bola em cima de Pitta. Contra o Palmeiras, equivocou-se em reposição rápida e não defendeu o chute de Endrick, depois ficou parado em bolas na área que poderia cortar. Contra o Vasco, mal posicionado no gol. Contra o Grêmio, não leu os espaços e saiu mal nos quatro gols. Como pode?
* O Botafogo ainda tem jogado no início das partidas. Entram também as partes física e psicológica. Começa bem, tem a bola, cria, faz gols. Mas, sabe-se lá por que, não se fecha quando está em vantagem. Reta final de Campeonato Brasileiro, 1 a 0 é goleada. Mas o time tem dificuldade em fazer gol e facilidade em levar. A conta não fecha. Piora nos segundos tempos porque questões físicas, a equipe morre, não tem mais força, os reservas entram quando o conjunto já está desfigurado. Tudo para de funcionar.
* Há solução? Não se sabe. Certo é que chegou novamente a hora de mudar de treinador. Lucio Flavio, definitivamente, não correspondeu. O desafio do novo técnico é recuperar o emocional dos jogadores e fortalecer a defesa. Assim, quem sabe, ainda dê para recuperar algo de um Botafogo ainda líder.