* A grande verdade é que o Botafogo nunca levou a Copa Sul-Americana tão a sério quanto o Campeonato Brasileiro. A torcida se animou quando foi divulgado que a final seria na data do aniversário de Garrincha, no Mané Garrincha, mas houve mudança da decisão para o Uruguai, e o clube aos poucos foi desmobilizando os torcedores na competição. Desde o início, as atuações não tiveram o mesmo brilho, a mesma concentração e o mesmo estilo que faz o Glorioso se destacar no Brasileirão.
* Foram apenas duas vitórias em casa, empates com Magallanes, LDU, Guaraní, Patronato e Defensa y Justicia ao longo campanha e um futebol que não empolgou em momento algum. É duro deixar de lado a chance de uma conquista sul-americana e as possibilidades que ela poderia abrir em outros torneios, mas é um planejamento do Botafogo de priorizar o Campeonato Brasileiro, no qual o time lidera com 11 pontos de vantagem.
* Muito se cobra sobre planejamento no Brasil, nesse caso claramente há um. Concordemos ou não. O Botafogo decidiu que vai atrás do sonho do título brasileiro, parte da torcida já entendeu e contemporizou a eliminação, outra parte só vai esquecer realmente quando o time for campeão. Mas agora já está feito, é hora de a Sul-Americana ficar para trás. Vamos juntos. Aliás, parabéns ao Movimento Ninguém Ama Como a Gente pela mobilização no aeroporto.
* O que é preciso é tirar lições, principalmente Bruno Lage. Ficaram claros erros de estratégia, de escalação e de substituições. Tchê Tchê não é nem pode ser o ponta-direita da equipe. Primeiro por ele mesmo, porque rende melhor como segundo volante, por dentro, marcando forte, se movimentando, dando opção de passe, chegando à frente como surpresa. Pela ponta, fica mais preso, tem a obrigação de grudar no lateral e não tem as características de força, velocidade e drible que a posição pede. A dinâmica da equipe toda muda.
* Piora quando Bruno Lage coloca Marlon Freitas e Danilo Barbosa juntos, dois “primeiros volantes”, que jogam posicionados centralizados, protegem a frente da área e distribuem passes. E piora ainda mais quando o treinador saca os dois ao mesmo tempo, como o que fez na mexida decisiva da derrota para o Defensa y Justicia.
* Gabriel Pires, que tem enorme qualidade com a bola, não pode ser o primeiro volante do time, precisa que alguém o proteja. Senão se desgasta demais percorrendo longos espaços do campo, tem que correr para fazer coberturas e perde energia para jogar.
* Lage acabou deixando no segundo tempo o time cheio de jogadores sem ritmo, desgastados ou sem estar no melhor de sua forma. Como Mateo Ponte, Marçal, Lucas Fernandes, Tchê Tchê, Gabriel Pires e Diego Costa. Soma-se a isso Matías Segovia não ter entrado bem. Era um duelo físico, o Botafogo perdeu sua força, deu espaço em excesso e sofreu o gol decisivo.
* O Botafogo, mais que nunca, tem que voltar a ser o do Brasileirão. Com solidez defensiva, velocidade pelos lados e convicção no ataque. Resta torcer para Bruno Lage pôr fim a testes e mudanças, parar com essa ideia de Tchê Tchê na ponta e manter o rumo certo pelo título. Nunca é bom ser eliminado, mas que o Botafogo aproveite que terá mais tempo para preparação para focar no tri, tão aguardado pela torcida.