Acompanhar esta temporada de 2023 tem nos exigido muitas coisas, sendo algumas corriqueiras para nós (apoiar o time, cobrar melhorias, entre outras coisas) e outras completamente “novidades” (ter paciência, entender o funcionamento de uma empresa, lidar com protagonismo, entre outras coisas). Pois bem, como todo processo em que novidades são implementadas, existe o período de adaptação no qual as dificuldades podem acabar ocupando um protagonismo desafiador.
Culturalmente, o torcedor brasileiro precisa encontrar um culpado, e quase que na totalidade das vezes a culpa recai sobre o técnico. Essa decisão pela ruptura normalmente é feita de maneira emocionada por parte do torcedor e do dirigente “amador”. Acontece que dentro de uma estrutura empresarial, o mesmo problema será analisado através de parâmetros muito mais racionais e baseados nas informações mais verdadeiras e confiáveis possíveis: as que vêm do dia a dia. Ninguém, além dos que trabalham no Botafogo, pode analisar o trabalho de Bruno Lage de maneira a cobrir todos os aspectos que precisam ser cobertos.
Vocês certamente lembram do momento em que a diretoria sofria uma intensa pressão para demitir Luís Castro, correto? Pois bem, a postura da diretoria foi a esperada de qualquer empresa organizada, ou seja, foram feitas reuniões em que, através de diálogo e análise, os participantes do processo decisório seguiram a direção que mais fazia sentido pra eles naquele momento. Foi preciso que todos os envolvidos colocassem seus pontos de vista e que, de maneira honesta e profissional, as pessoas se comprometessem a chegar pelo menos a um meio-termo. Se mesmo após esse processo a coisa toda não tivesse se aprumado, certamente teríamos visto uma ruptura. As rupturas não são um problema, desde que feitas como conclusão de um processo constituído de parâmetros corretos e equilibrados.
Será possível obtermos novamente o mesmo sucesso que obtivemos ao não termos demitido Castro? Somente quem está lá dentro pode tentar projetar isso, mas nem mesmo eles podem garantir tal repetição. Ao dizer tudo que disse, não quero ficar em cima do muro, apenas me recuso a emitir uma opinião definitiva sem ter os elementos que julgo serem necessários para me colocar de maneira justa e responsável. Os tempos atuais nos cobram que tenhamos opiniões sobre todos os assuntos, mesmo quando não os dominamos ou não temos os elementos necessários para formulação de uma análise criteriosa. Me recuso a seguir esse caminho, pois meu compromisso é analisar tudo da maneira mais justa possível, e se não puder atingir esse objetivo, seguirei o caminho de expor meus motivos e apontar o método que eu usaria para analisar a situação.
Ao longo do processo de pressão pelo qual passou Luís Castro, muitos ensinamentos foram fornecidos, mas de nada terão servido se não os usarmos com sabedoria. Nenhum técnico pode estar imune a ser demitido, mas essa decisão não pode ser tomada sem antes esgotarmos o diálogo visando uma correção de rota. O Botafogo hoje precisa olhar para dentro e ser honesto consigo mesmo, pois isso certamente irá ajudar na decisão que o clube precisa tomar.
Conceitualmente, torço muito para que Bruno Lage entre em um caminho melhor e nos leve ao título sem que uma ruptura seja necessária, mas acima de qualquer desejo meu está o que precisa ser feito. Confio muito que a nossa diretoria irá tomar a decisão correta e de maneira célere.