Os clubes brasileiros possuem uma dívida que atingiu R$ 7,3 bilhões na temporada passada e, ainda sem o balanço final deste ano, já há indicação que ela vai aumentar 8%, batendo nos R$ 7,9 bilhões. Entre os devedores, há times que estão com o saldo negativo controlado e outros que estão em situação preocupante e que veem o projeto clube-empresa como uma salvação. A porposta do deputado Pedro Paulo (DEM-RJ) passou na Câmara dos Deputados. Segue agora para o Senado.
O Botafogo encabeça a lista entre os mais endividados, com o total de R$ 730 milhões, de acordo com os números de 2018 consolidados pela Ernst&Young, consultoria que participa da análise do projeto de transformação dos clubes em empresa. E é também o Alvinegro carioca, que já teve Garrincha em suas fileiras, que apresenta dívida mais nociva, uma situação bem diferente do Flamengo, que deve R$ 469 milhões e aparece em oitavo lugar nesse ranking.
Os cenários são distintos também sob o ponto de vista econômico. “É quase como comparar um financiamento imobiliário com uma dívida do cheque especial”, explica Pedro Daniel, diretor executivo da Ernst&Young.
Grande parte da dívida do Botafogo é de curto prazo, enquanto que o Rubro-negro tem endividamento atrelado ao PROFUT, no longo prazo, e, contabilmente, tem alguns investimentos.
Existe também uma grande diferença de receita entre as duas equipes do Rio. O Flamengo arrecadou R$ 542 milhões em 2018 enquanto que o Botafogo faturou R$ 182 milhões. Ou seja, o Flamengo está equalizado porque o que ele recebeu é mais do que o dobro de sua dívida, enquanto que o Botafogo tem uma relação de receita de aproximadamente 1/4 do seu endividamento. Esse é o ponto. E o Botafogo não está sozinho nessa. Muitos outors clubes da Série A do Brasileiro pecam em suas gestões. Gastam mais do que arrecadam. Trazem em suas administrações, endividamento de outros presidentes.
“Uma coisa é você ter parcelas de R$ 1.000 para um carro tendo salário de R$ 10.000, outra coisa é ganhando um salário mínimo. Percebe que o mesmo endividamento é muito mais nocivo para quem não tem recebíveis ou fluxo de caixa?”, explica Pedro Daniel, diretor da EY.
Não é à toa que o Botafogo já declarou adesão ao projeto clube-empresa caso seja ele aprovado. O texto passou pela Câmara dos Deputados na quarta-feira e vai agora para o Senado. Os irmãos botafoguenses Moreira Salles encomendaram um estudo no início do ano para avaliar a viabilidade de o clube virar uma sociedade anônima a partir do próximo ano, que é quando se espera que o projeto seja sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro.
CLUBE-EMPRESA
Para ser integrado ao projeto, o clube interessado terá de apresentar um plano completo de reestruturação e aí poderá pedir a recuperação judicial e negociar suas dívidas. Os clubes-empresas vão poder parcelar débitos em até 150 meses, com uma redução das multas em 70%, dos juros em 40% e dos encargos legais em 100%. É, de fato, uma salvação para o futebol. Sem dívidas e mais transparentes, os clubes podem formar equipes mais fortes e, assim, atrair mais investidores.
O texto que tramita no Congresso cria também uma tributação especial para os clubes que profissionalizarem suas gestões. Denominada Simples-Fut, a nova taxa obriga o clube a recolher 5% da receita bruta para saldar o Imposto de Renda, a Contribuição Social sobre Lucro Líquido (CSLL) e o Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins). O valor de tributação de 5%, contudo, poderá ser reduzido em 1% caso os clubes incentivem a formação de categorias de bases do futebol feminino e o incentivo ao esporte em comunidades carentes.
Os deputados fizeram apenas uma modificação no texto e passaram a deixar como opcional a contribuição que os clubes fazem à Federação das Associações dos Atletas Profissionais (Faap) e à Federação Nacional dos Atletas Profissionais (Fenapaf). Atualmente, a cada transação de jogadores, os times pagam uma parte às entidades que cuidam de ex-atletas.