Há um olhar direcionado ao drama do Vasco no clássico desta tarde que, de certa forma, encobre o bom trabalho realizado no Botafogo.
Talvez, porque seja mesmo mais impactante falar de um gigante que sofre com a dor de uma possível permanência na Série B.
Mas não deveria ser assim.
Os pontos em disputa no duelo de São Januário também podem coroar a campanha de um glorioso.
E é bom que o ‘lanterna’ da Série A de 2020, com cinco vitórias em 38 rodadas, chegue à reta final podendo regressar com a faixa de campeão cruzada no peito.
Porque o silencioso trabalho de gestão que a diretoria alvinegra vem fazendo para adequar as finanças do clube à sua realidade merece ser valorizado.
A campanha do Botafogo nesta Série B joga por terra a narrativa de que é preciso dinheiro para se ter uma equipe competitiva.
Não, não é.
É claro que quanto maior o orçamento, mais claras as chances de conquistas.
Mas a falta de recursos não impede o alcance de metas compatíveis.
O processo de construção de um time eficiente está mais relacionado à competência na montagem da estratégia do que aos altos investimentos.
E os alvinegros foram competentes neste particular – ao contrário dos vascaínos que se enrolaram entre expectativa e realidade.
Vejam vocês que o Botafogo tem uma dívida cerca de 30% mais onerosa do que a do seu rival.
E, em tese, tem também menor poder de obtenção de novas receitas, principalmente se aferido pelo tamanho das torcidas e audiência nas redes sociais.
Mas um conseguiu se refazer após campanha vexatória na Série A; o outro, rebaixado no saldo de gols, estragou o que já não era bom.
Essa é a diferença que faz dos alvinegros um candidato ao título e condena os vascaínos ao fracasso.
A chegada de Eduardo Freeland ao comando do futebol profissional permitiu rápida identificação dos pontos que minaram o Botafogo em 2020.
O ex-gerente da base do clube ajustou o elenco com critérios bem delineados, de acordo com a necessidade dos treinadores.
Primeiro com Marcelo Chamusca, depois com Enderson Moreira.
E mesmo sem um elenco recheado de estrelas formou um grupo equilibrado o suficiente para competir conforme as exigências de uma segunda divisão.
Freeland trabalhou na volta do zagueiro Carli, investiu no pouco conhecido Chay para ser a referência na criação e apostou em Navarro, o goleador da base.
Ou seja: transformou o todo, dando sobriedade à defesa, qualidade às jogadas de ataque, e eficiência às finalizações.
Kanu, Barreto, Marco Antônio, Diego Gonçalves e Warley foram ganhando protagonismo em suas funções e o conjunto adquiriu personalidade e confiança.
Exatamente o que faltou ao Vasco durante a temporada, erro estratégico de Alexandre Pássaro, que errou feio na montagem e gestão do elenco.
A começar pela falta de uma boa referência na armação do time – deficiência só corrigida com a chegada de Nenê, em setembro.
Sem essa peça, o time não teve harmonia entre o campo e o treinador, e sem ela não conseguiu dar personalidade e confiança a seu entorno.
Faltou na diretoria vascaina um mínimo de conhecimento de futebol…