Atual técnico do Al-Nassr, Luís Castro abriu o coração sobre o Botafogo em excelente entrevista ao “Canal Goat”, veiculada nesta segunda-feira (21/8). O português, que deixou o Glorioso em meio à campanha histórica no Campeonato Brasileiro para topar uma proposta milionária da Arábia Saudita, falou com carinho do clube e do legado que deixou no grupo.
– O mais importante é o espírito vencedor, não o espírito miserabilista que encontrei quando cheguei, de que éramos os coitadinhos, de que quando perdia um jogo parecia que havia perdido dez… A mentalidade tem que ser vencedora sempre. Queremos sempre mais, e essa mentalidade está instalada no Botafogo. Se formou um grupo muito forte, que se blindou, e tivemos que nos blindar. Quando disse que o Estadual tinha sido um momento fantástico para nós, eu sabia o que estava dizendo. Sabia a forma como fizemos o Estadual, como fomos agredidos, e a forma como nos blindamos. Aquela blindagem nunca vai ruir. É um grupo fantástico, não vai se deixar mexer por nada nem por ninguém – disse Castro.
O técnico português lembrou das dificuldades que encontrou quando chegou no Botafogo, com o clube recém adquirido por John Textor, e revelou alguns pontos inéditos.
– Quando cheguei no Botafogo, não tínhamos campo para treinar. Fomos à Aeronáutica, ao campo anexo do Nilton Santos, ao Lonier todo quebrado… Mas, pronto, construímos, em oito meses tínhamos um vestiário para todos os jogadores, em 15 dias deixamos de o almoço ser um sanduíche de carne para ser três pratos no refeitório, deixamos de tomar banho frio para tomar banho quente na sala onde eu me arrumava, deixei de ter os bichos lá dentro, passei a ter um lugar mais limpo. Construímos. Hoje é um clube credível, que o mundo olha com muito respeito e, embora nunca tenha perdido seu prestígio, seu prestígio ficou mais brilhante, sua estrela brilhou mais, seu fogo aumentou. Tudo com o trabalho de todos, não com o trabalho do Luís, mas da torcida, do estafe, de todos… Eu só propus algumas coisas e as pessoas agarraram e seguiram com elas – afirmou.
Luís Castro foi perguntado se merecia uma medalha caso o Botafogo confirme o título brasileiro, e ele admitiu que desejaria não para ele apenas, mas também para o ex-interino Cláudio Caçapa, que fez a transição para a chegada de Bruno Lage. O ex-técnico alvinegro ressaltou ainda a importância da temporada 2022 para o sucesso atual do Glorioso.
– Uma medalha para o Caçapa, uma medalha para o Luís Castro e três medalhas para o Bruno (Lage), acho que cabe bem (risos). Não sei se isso vai acontecer, mas… As medalhas das nossas vidas são muito mais daquilo que nós sentimos e pelo reconhecimento do que a medalha em si. O Botafogo sendo campeão como eu espero que seja esse ano, esse título que poderá conseguir tem muito, muito, muito da temporada passada. Ela foi decisiva para o que está acontecendo esse ano. Foi uma temporada de crescimento, de doutrinar muita gente lá dentro que estava sofrida, desconfiada, que não estava sendo respeitada durante muito tempo, porque é fácil maltratar quem está por baixo. Normalmente, as pessoas carregam o que é bom. Foi muito difícil virar isso ao contrário. As pessoas ficaram muito tempo sem receber, não tinham as condições necessárias e mudar essa mentalidade foi um trabalho enorme. Foi um trabalho maior do que montar uma equipe. Montar um elenco foi mais fácil do que fazer perceber às pessoas que tinham de pensar de outra forma para contagiar quem trabalhava dentro de campo no dia a dia. “Ah, mas tudo acontece ao Botafogo”, e eu falava: “Para com isso! Podem acontecer coisas boas também.” A vida é para ser vivida com alegria, foi essa alegria que colocamos no dia a dia do clube, essa energia positiva que fez dar a volta a tudo. Hoje é um clube de grande prestígio, vai ser campeão brasileiro, vai ser uma grande festa, merecem todos – frisou Castro.