Nos últimos dias muito se tem discutido de quem é a maior parcela de culpa para a patinada que o Botafogo tem dado no atual Campeonato Brasileiro. Vários são os candidatos, mas ninguém pintou como o único – e talvez nem exista. Uma certeza, no entanto, eu tenho. A culpa não é sua, torcedor.
Apesar de muitos irmãos de camisa, no momento da dor, venham com essa narrativa, isso é balela e uma tremenda covardia.
Não, não foi o excesso de festas no estádio. Não foi o excesso de confiança, que, em muitos casos até misturou com arrogância. O time tinha 13 pontos de vantagem na ponta: se o torcedor não pode ser otimista nessa circunstância, não sei mais quando pode.
“Ah, mas a torcida passou pano demais em momentos que deveriam ser de cobrança”. Se isso fosse verdade o Flamengo teria vencido tudo esse ano, certo? “Pior que o torcedor são os influenciadores”. Olha, nem sei se gostaria de ter esse poder que alguns de vocês acham que temos.
Não, também não é culpa da camisa, da cueca ou até do desodorante que você está usando na hora do jogo. Ou do trajeto que você escolhe para chegar em casa. A gente tenta se enganar nas vitórias, mas lá no fundo você sabe que isso não existe, que isso não interfere em absolutamente nada dentro de campo.
O futebol é muito mais pragmático que isso. Ele é resolvido majoritariamente dentro de campo. Tudo depende da bola entrar. E isso vai do centroavante do time, ao meia que dá ao passe, ao técnico que consegue criar situações para facilitar a vida dos atletas em campo. Depende de quem contrata e gerencia o grupo com aplausos e cobranças na hora certa.
É de dentro para fora, e não ao contrário. Sempre foi. Por mais que o incentivo e o clima criado ajudasse. São com os caras lá dentro. E isso é na benesse do sucesso ou na dor do fracasso. Profissionais dessa área são acostumados a lidar com essa pressão.
Sei que não são robôs e sentir o momento, como tem ocorrido, os humanizam, mostram caráter. Mas essa má fase não pode perdurar, precisa ser digerida rapidamente. Não há tempo para se perder, pois há muito a se perder.
Portanto, torcedor do Botafogo: seja você raivoso ou mais tranquilo; pessimista ou otimista; incrédulo ou ainda com fé; nesse momento complicado eu quero que você saiba que eu sinto a sua dor, estamos juntos no mesmo barco. Não existe uma forma certa de torcer. Não canalizem sua frustração nos irmãos de camisa.
Uma certeza, no entanto, eu tenho. A culpa não é do torcedor.