Entre dúvidas e dívidas, Engenhão vira elefante branco do Campeonato Carioca

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Por FogãoNET

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O Engenhão é do tamanho da incógnita que paira sobre a cabeça de quem depende dele para sobreviver. Fechado para obras na cobertura e cercado de incertezas sobre a data de reabertura, o estádio é o elefante branco do Estadual que começou ontem.

A falta do Engenhão interfere não apenas na rotina do futebol carioca, cada vez mais restrito ao Maracanã como palco dos jogos de mais apelo. Quem apostou no estádio como fonte de renda acumula prejuízos.

Oriel Roque, de 46 anos, resume sua vida como uma montanha russa, na carona dos picos e quedas do Engenhão. Proprietário de um restaurante na Rua José dos Reis, próximo ao acesso oeste do estádio, viu o movimento da clientela cair 50% desde que o Engenhão fechou, em março de 2013. Mesmo com o local vazio, ele fez questão de manter o número de funcionários, na esperança de que as obras no estádio não demorassem. Agora, para a conta fechar todo mês, é preciso recorrer ao dinheiro guardado.

– Tivemos de queimar gordura. Pelo menos a obra começou e temos o movimento de operários, às vezes. Mas, sem os jogos, o policiamento na região diminuiu muito. A rua ficou mais abandonada – reclama o comerciante, desde 2010 no local, preocupado com a segurança.

 

Oriel Roque viu o movimento no restaurante despencar
Oriel Roque viu o movimento no restaurante despencar Foto: Roberto Moreyra / Agência O Globo

Nas lojas ao lado, o aperto é pior. No começo de 2013, Elizeth Dias decidiu investir na compra do restaurante que frequentava com o marido. A agitação em dias de jogos chamava-lhe atenção e gerava expectativa de lucro – que foi embora 15 dias depois da aquisição, com a interdição do Engenhão pelo risco de queda da cobertura.

– Para mim, não me resta nada além de esperar. Não tenho como passar o ponto adiante. Ninguém vai pagar o que eu paguei, com o estádio fechado. Meu prejuízo é mensal, tirando R$ 8 mil do meu bolso para manter o local aberto – desabafa.

Tão penosa quanto as perdas é a falta de informação sobre a reabertura.

– Muita gente perdeu emprego por aqui. Ninguém nos dá uma satisfação – lamenta Elizeth.

 

Cerca de 250 pessoas, entre engenheiros e operários, trabalham na reforma da cobertura do Engenhão
Cerca de 250 pessoas, entre engenheiros e operários, trabalham na reforma da cobertura do Engenhão Foto: Roberto Moreyra / Agência O Globo

Reabertura cercada de incerteza

Oficialmente, a reabertura do Engenhão, de acordo com a Secretaria de Obras do Município, está prevista para novembro. O Botafogo, por sua vez, sonha antecipar o retorno ao estádio, mesmo que com a capacidade reduzida. Entre o sonho e a realidade, há a informação de que reforma vai se prolongar.

Um laudo da empresa OAS, que forma com a Odebrecht o consórcio responsável pela reforma do Engenhão, prevê a finalização da intervenção apenas em 2015, de acordo com informação do jornal “O Globo”. Procuradas, as construtoras insistem na entrega ainda em 2014. “O Consórcio Engenhão informa que o projeto de recuperação do estádio Olímpico João Havelange está em pleno andamento e destaca que as obras serão finalizadas em novembro de 2014”, afirmaram, em nota.

 

Ferrugem na parte externa assusta pedestres na Rua Goiás
Ferrugem na parte externa assusta pedestres na Rua Goiás Foto: Roberto Moreyra / Agência O Globo

De acordo com a prefeitura, cerca de 250 pessoas, entre engenheiros e operários, trabalham na reforma. Atualmente, os trabalhos acontecem na parte externa do estádio, com o estudo do solo e a avaliação de profundidade para a instalação das gruas necessárias para a obra.

Dois cabos estaiados serão instalados nos lados leste e oeste do estádio. Eles pinçarão a cobertura danificada

Oposição reclama de falta de transparência

A Comissão Externa do Legado da Copa e das Olimpíadas, responsável pela fiscalização das obras feitas em função dos eventos esportivos, tenta acompanhar de perto o andamento das obras no Engenhão. A falta de transparência por parte da Prefeitura do Rio é reclamação do deputado federal Alessandro Molon (PT-RJ).

– Não houve transparência para tratarem o problema. Solicitamos os laudos, e tivemos demora enorme para recebê-los. Agora estamos analisando os documentos com a ajuda de peritos – disse o presidente da comissão.

 

No lado de fora, bilheterias estão abandonadas
No lado de fora, bilheterias estão abandonadas Foto: Roberto Moreyra / Agência O Globo

Em abril passado, Molon esteve no Engenhão para fazer uma vistoria ao lado de engenheiros e detectou outros problemas no estádio, de ordem hidráulica e elétrica:

– Um estádio que custou quatro vezes mais (R$ 380 milhões) do que o previsto não pode ter problemas de qualidade. É fundamental que não haja dinheiro público na obra.

De acordo com a prefeitura, a intervenção atual tem sido bancada integralmente pela iniciativa privada.

 

Operário trabalha no alto da cobertura do estádio

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