Oito de dezembro de 2013. Clarence Seedorf marca o último gol dos 3 a 0 do Botafogo sobre o Criciúma que ajudou o time carioca a, três dias depois, garantir vaga na pré-Libertadores com a derrota da Ponte Preta para o Lanús na final da Copa Sul-Americana.
14 de janeiro de 2014. O holandês de 37 anos anuncia a aposentadoria e, dois dias depois, se torna oficialmente treinador do Milan, sucedendo Massimiliano Allegri. Para estrear no dia 19 diante da torcida no San Siro contra o Hellas Verona.
Sem tempo para treinar, Seedorf parece ter partido de ideias colocadas em prática pelo último time em que atuou e, dentro de campo, ajudava a organizar. Em campo, o Botafogo de Oswaldo de Oliveira foi a inspiração do novo técnico.
Não só pela mudança para um 4-2-3-1 ofensivo, mas principalmente por conta da dinâmica do quarteto ofensivo. Seedorf reuniu o que tinha de melhor em técnica e experiência: Keisuke Honda, Kaká, Robinho e Balotelli. Todos sem posição fixa e se aproximando para as tabelas. Sem comparações, o mesmo que Oswaldo pedia a Seedorf, Lodeiro, Rafael Marques e Fellype Gabriel , depois Vitinho.
A solução mexe com a marcação adversária e impede que os meias pelos lados travem o apoio dos laterais. De Sciglio e Emanuelson tinham corredores abertos para descer alternadamente. Outra semelhança: funções bem definidas entre os volantes.No Bota, Marcelo Mattos fica e Gabriel ou Renato ataca. Na equipe rossonera, De Jong jogou mais plantado e Montolivo liberado para se juntar ao ataque.

Diante de um Verona fechado em um compacto 4-1-4-1, mas sem força nos contragolpes e isolando o centroavante Cacia, o Milan ocupou o campo de ataque, teve 70% de posse de bola, finalizou 18 vezes e acertou a trave em chute desviado de Robinho, que não jogou bem. Nem mal. Deu lugar a Petagna para aumentar estatura e presença de área.
Kaká também não brilhou, mesmo sofrendo o pênalti decisivo. Honda tentou articular, mas ainda carece de entrosamento e adaptação ao futebol italiano. Saiu para a entrada de Birsa. Coube ao melhor do quarteto ofensivo assumir a responsabilidade, converter a penalidade e dar a primeira vitória a Seedorf.
Balotelli foi a referência do ataque, mas sem ficar preso entre os zagueiros. Fez parede para os companheiros quando preciso, mas procurou os flancos e recuou para tabelar mais que o habitual. Como sempre, não se omitiu. E decidiu.

Intencional ou não, a decisão de seguir a proposta de jogo de um dos melhores times do Brasil em 2013 se mostrou acertada. Mas a última linha defensiva, frágil e exposta, inspira cuidados. Contra equipes mais ajustadas e contundentes, pode ser letal deixar Zapata e Bonera no mano a mano com os atacantes como aconteceu algumas vezes e o Verona não aproveitou.
Seedorf foi enfático após o jogo: “O foco está sendo redescobrir a alegria de jogar futebol”. Para um início tão atropelado na nova profissão, foi um bom começo.
