Estudo expõe pífia presença de torcida e aumenta dúvida sobre futuro das arenas

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Por FogãoNET

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Os R$ 5,3 bilhões previstos inicialmente para a construção e as reformas dos 12 estádios que serão utilizados na Copa do Mundo pularam para quase R$ 9 bilhões. Em média, as arenas têm capacidade para 53 mil torcedores, número 11 vezes maior do que a média de público do futebol brasileiro em 2013.

A comparação entre a frequência de público em campeonatos estaduais cada vez mais esvaziados e a capacidade de estádios modernos ressalta a inevitável questão: como recuperar o investimento?

— É um investimento sem volta, um dinheiro que pode ser considerado perdido. A questão maior é como administrar esses novos estádios. Quanto isso custará para não virarem elefantes brancos? — questiona Fernando Ferreira, especialista em gestão e marketing esportivo e diretor da Pluri Consultoria.

Segundo estudos da empresa, o principal problema a ser resolvido está nas arenas de Manaus e Cuiabá, cujos campeonatos estão entre os mais deficitários do país.

No ranking de média de público por clube de 2013, divulgado pela Pluri este mês, Cruzeiro, Corinthians, São Paulo, Santa Cruz, Grêmio, Flamengo, Atlético-MG, Remo, Bahia e Ceará ocupam as dez primeiras posições entre os 296 da lista. O primeiro clube amazonense é o Nacional, na 91ª posição. O Mixto, líder do Mato Grosso, é o 119º.

— (O futuro da arena) É um problema nosso, não é da imprensa do Sul. Se tivemos competência para construir uma arena desse porte a um preço muito mais barato que outras arenas, teremos competência para dar um legado — disse o governador amazonenese Omar Aziz, na inauguração da arena de Manaus.

— Chega a ser risível as autoridades dizerem que atrações artísticas ajudarão a reaver os gastos — diz Fernando Ferreira, criticando também o ministro do Esporte Aldo Rebelo. — Ele já colocou a questão como uma briga entre as regiões Sul e Norte. Se há a preocupação em desenvolver os mais pobres para competir com os mais ricos, o investimento deveria ser nos clubes, e não em monumentos.

 

Foto: Arte de Felipe Nadaes

Em 2013, média inferior a 5 mil pagantes

No Brasil, em 2013, nem mesmo a média de público da Libertadores seria capaz de lotar uma das 12 arenas da Copa. A competição sul-americana levou pouco mais de 30 mil pessoas por jogo aos estádios.

Na média geral, menos de 5 mil pessoas foram aos jogos (4.721). Dos estados que herdarão arenas, apenas três estão entre os dez com melhor média de público: Minas (6º, com 6.451 pessoas); São Paulo (7º); e Pernambuco (10º). O Rio ocupa a modesta 16ª posição, atrás de Bahia (14º) e Paraná (15º), e pouco à frente de Rio Grande do Sul (17º) e Ceará (18º).

— Com esses números, o governo colocará cada vez mais dinheiro para manter os estádios de pé. Como ninguém vai assumir a responsabilidade de derrubá-los, vão ficar como monumentos à corrupção e incompetência — acredita Fernando Ferreira.

Das 33 competições analisadas, os campeonatos de Brasília (22º), Rio Grande do Norte (23º), Amazonas (27º) e Mato Grosso (30º) aparecem atrás de competições como as Séries B, C e D do Brasileiro.

 

Foto: Arte de Felipe Nadaes

Governo aposta em mudança de formato

O fracasso de público do futebol brasileiro tem chamado também a atenção do governo brasileiro. Apesar do elevado custo para a construção de estádios modernos, existe a certeza de que será possível mantê-los em atividade com atrações artísticas e, principalmente, com uma mudança do formato das competições.

— O produto oferecido é muito ruim. Costumo dizer que o pão é muito bom com um recheio ruim. Se as arenas são modernas demais para a fórmula atual dos Estaduais, que as fórmulas sejam mudadas — analisa Antonio Nascimento, secretário de futebol do Ministério do Esporte.

Para o secretário, é preciso haver uma revisão do calendário brasileiro, com a cobrança de preços justos pelo espetáculo que é oferecido.

— Alguns clubes estão indo com muita sede ao pote, como aconteceu com o Flamengo ano passado, na final da Copa do Brasil. Querem elitizar demais o futebol, que é uma questão cultural do povo. Não podem querer fazer daqui uma Inglaterra.

Números ruins na comparação internacional

Com o passar dos anos, a média de público dos clubes brasileiros e o valor de mercado de cada um deles vão caindo consideravelmente. No último balanço divulgado pela Pluri Consultoria dos 100 clubes do mundo com maior presença de torcedores nos estádios — estudo que considera apenas campeonatos nacionais —, o Corinthians é o brasileiro mais bem colocado, na modesta 91ª posição. E com um detalhe considerável. Em 2012, o Timão ocupava o 65º lugar.

O líder do ranking é o alemão Borussia Dortmund, que manteve a ocupação de 100% do seu estádio das temporadas 2011/2012 para 2012/2013 (80.558 torcedores).

Outro dado curioso é que o segundo clube brasileiro no ranking internacional de público é o Santa Cruz (95º), que subiu para a Série B do Brasileiro deste ano.

O valor de mercado dos clubes brasileiros também piora a cada ano. À exceção do Cruzeiro, que passou de 109º (2012) para 82º no ano passado, Corinthians, Inter-RS e São Paulo (os outros três entre os 100 primeiros), perderam valor. Em 2012, sete clubes integravam a lista dos mais valiosos, contra apenas quatro em 2013. O Flamengo, clube de maior torcida, era o 103º mais valioso em 2012. No ano passado, passou para 148º .

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