Estaduais, calendário, gramados, desrespeito… Técnico do Botafogo, Luís Castro faz longo desabafo sobre mazelas do futebol brasileiro: ‘Uma hora pagaremos a fatura’

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Por FogãoNET

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Estaduais, calendário, gramados, desrespeito… Técnico do Botafogo, Luís Castro faz longo desabafo sobre mazelas do futebol brasileiro: ‘Uma hora pagaremos a fatura’
Vítor Silva/Botafogo

Além de abordar temas sobre o Botafogo, o técnico alvinegro Luís Castro fez também um longo desabafo criticando alguns pontos do futebol brasileiro que ele acredita que devem ser melhorados. Em longa entrevista no programa “Boleiragem”, do SporTV, na noite desta segunda-feira (15), o português citou em especial o Campeonato Estadual no começo do ano, que achata o calendário e impede a realização de uma pré-temporada ideal.

– Passamos um momento muito difícil que foi a Covid, quando os campeonatos pararam e tivemos que repor. Eu estava no Shakhtar e tinha Champions League, depois fomos para a Liga Europa, depois tinha as ligas, eram três jogos por semana. Vim encontrar isso outra vez aqui no Brasil, sem contexto de Covid. Nós praticamente não temos uma pré-temporada. Ela é fundamental para as equipes e se ela não fosse fundamental, não havia cinco, seis semanas de pré-temporada em cada temporada esportiva. Não é desculpa nenhuma, é uma coisa que quero desmontar aqui. Não tenho problema nenhum com a crítica, é algo que faz parte do futebol. Acho que a crítica tem que ser feita com respeito pelo ser humano. Uma coisa é a liberdade de expressão, outra é a liberdade de ser mal educado e desrespeitoso. Dizer que o Botafogo está jogando mal porque os setores não estão ligados, o corredor direito não funciona, é uma crítica justa. Outra coisa é dizer que os treinadores são burros, os jogadores são incompetentes… Como é que há treinadores que são competentes num ano e quando passam as férias e são burros e incompetentes? – questionou Castro, continuando:

– Sem uma pré-temporada, as equipes terão dificuldades em abordar os campeonatos. São cinco ou seis semanas fundamentais. É diferente fazer uma pré-temporada em paz, em que a dimensão mental é preservada, e aqui encontrei uma coisa diferente, porque não fiz pré-temporada no primeiro ano, porque cheguei antes do início do Brasileiro, e esse ano teve o Estadual. Todo mundo diz que o Estadual é algo que não é importante, mas o certo é: “Vamos desmontar o Estadual.” Os estádios onde jogamos, por muito esforço que as equipes tentem fazer, não têm condições. As arbitragens são feitas por árbitros que estão no início de carreira, que são confrontados com duelos muitos fortes, em que há grande pressão para a qual não estão preparados. Os jogadores estão no início da preparação e não estão preparados para aquela dimensão de exigência de início de temporada. Os treinadores têm que gerir treinos e jogos sem os jogadores estarem prontos para a competição, tem que fazer jogos de três em três dias… No Botafogo, andamos com a casa às costas, sem ter um estádio. Qual é a dimensão mais desgastada nesse começo de temporada? É a mental. Começamos o Brasileirão, todos nós, não só o Botafogo, muito desgastados pelo que foi o Estadual. Agora, vamos pagar a fatura. Ou pagamos agora, ou pagamos mais à frente. As equipes não são máquinas, têm sempre desgaste. Esse desgaste aparece mais cedo ou mais tarde, mas vai aparecer.

Luís Castro também focou muito na necessidade de haver respeito de todos os envolvidos com o futebol e citou problemas como a má qualidade dos gramados e o calendário apertado de jogos, sem tempo necessário de descanso e preparação entre uma partida e outra.

– Adoro o Brasil, adoro o Campeonato Brasileiro, gosto da emoção, de tudo que envolve, da forma como a crítica é apaixonada. Gosto de tudo, exceto uma coisa: eu gosto de respeito, respeito por quem trabalha, pela mídia, pelos treinadores, pela torcida, pelos departamentos dos clubes. Eu não posso dizer o contrário. No dia em que eu estiver a mais no futebol brasileiro, me mandem embora, vou trabalhar em outro lado, não tem problema algum. Há uma questão cultural em algumas coisas. Mas vão me desculpar. Gostamos dos nossos filhos e vamos tratar mal os nossos filhos? Nossos pais? Nosso futebol? Quem trata mal o futebol não gosta do futebol. Pode viver do futebol, isso é outra coisa. As pessoas têm que respeitar o futebol. É uma verdade que eu vendo meu trabalho para o futebol. É uma profissão que adoro, cheguei ao futebol com 11 anos e tenho 61, há 50 anos estou no futebol – disse o treinador, prosseguindo:

– Como é que tratamos tão mal o futebol? Como gostamos tanto de futebol e temos gramados que não estão de acordo com a prática do futebol? Como gostamos tanto das equipes e insultamos quem anda dentro das equipes? Por que jogamos de dois em dois dias? Como é que isso é possível? Nós que gostamos de futebol temos que tratar bem o futebol. Se eu gosto do futebol, tenho que respeitar os profissionais da imprensa. Quando estou numa coletiva, são todos da mídia, não é um youtuber, aquele do site não sei o quê, aquela senhora da Globo, o outro da ESPN… Quem vai ao futebol trabalhar, é para desenvolver com respeito. O futebol, para se dar um passo à frente, tem que ser tratado em qualquer lugar do mundo. Vou jogar no Athletico-PR às 21h30 de quarta-feira. Tem jogo com o Fluminense no sábado… Não era melhor para o futebol ter quatro ou cinco dias para dar um melhor espetáculo? Era importante alguém pensar a organização do futebol e colocar o futebol em seu devido lugar. Quantos treinadores já caíram desde o começo do ano? Isso tem fundamento?

Fonte: Redação FogãoNET e SporTV

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