Carlos Augusto Montenegro, presidente do Botafogo de 1994 a 1996, campeão brasileiro, grande benemérito, cardeal, influente e polêmico, deu adeus à vida política do clube. Em depoimento ao canal “Bastidores da Arquibancada”, ele fez um balanço dos 30 anos em que esteve ativo internamente, seja no poder ou ajudando financeiramente.
O ex-dirigente passou a bola após proximidade do acerto do Botafogo com John Textor para se tornar SAF (Sociedade Anônima do Futebol), a qual comemorou, admitiu erros principalmente com o Comitê Executivo de Futebol e revelou os três legados que o orgulham.
– Estou aqui, fora do Brasil, em Paris, acompanhando e vibrando muito com os últimos acontecimentos e torcendo para que o desfecho seja o mais rápido e o melhor possível. Nesse momento, onde o Botafogo está sendo vendido e começa uma nova vida, com profissionais, tive que fazer uma reflexão desses últimos 30 anos. No final de 91, começo de 92, alguns botafoguenses, liderados pelo falecido Jorge Aurélio Domingues, me pediram uma audiência no Ibope. Nunca fui sócio ou tive vida política, sempre fui um torcedor fanático de arquibancada. Me pediram ajuda para tentar recuperar a sede de General Severiano, aí começou a aproximação. Pela primeira vez vi um projeto sério, permuta de terreno pela volta da sede. Comecei um trabalho junto com outros botafoguenses na Câmara dos Vereadores, junto a prefeito e ao presidente da República, graças a Deus deu tudo certo. Conseguimos recuperar a sede, restaurar e construímos um shopping. Foi uma época difícil para mim, tive que me afastar do Ibope e logo depois meu pai faleceu. Acho que ele lá do céu me ajudou. Em 94 começou a restauração, em 95 tive uma das maiores alegrias da minha vida, com o título brasileiro. Talvez por esse título, mais do que cardeal, mecenas, benemérito, grande benemérito, a torcida me abraçou com carinho me chamando de presidente eterno, algo que é o auge na minha opinião. Cada hora esse título fica mais importante. Agora que o Botafogo vai virar empresa, passei a ter a responsabilidade de ser o único presidente eleito, em 51 anos, a ter conseguido um título de campeão brasileiro da Série A. Depois disso saí, ainda tive o prazer de ganhar um Carioquinha e o último título internacional, o Tereza Herrera – relembrou.
– Então fiz uma promessa de só ajudar os botafoguenses se fosse chamado. Era muito difícil ter minha vida profissional e conduzir o clube. Vieram os presidentes Mauro Ney (Palmeiro), (José Luiz) Rolim, Bebeto (de Freitas), Mauricio (Assumpção), Carlos Eduardo (Pereira) e Nelson (Mufarrej). Eu sempre era chamado para ajudar com algum tipo de dinheiro. Nos últimos três anos, do Mais Botafogo, um grupo que dirigiu o clube, alguns representantes foram na minha casa pedir pelo amor de Deus para pegarmos, porque não tinham mais um centavo, diretriz ou norte – contou.
– Resolvi aceitar junto com outros botafoguenses, surgiu o famoso Comitê. Não deu certo. A gente sabe de todos os erros cometidos. O comitê foi muito complicado porque são várias pessoas e acaba ninguém mandando. Eu acabei aparecendo mais por ser uma pessoa mais conhecida, mas não me arrependo. A gente fez o que pôde. Pagamos os salários da melhor forma possível, do jeito que a gente tinha e que conseguiu. E se a gente chegou hoje a ter um clube com capacidade de se transformar em empresa, um clube cobiçado, acho que a gente teve uma participação nessa luta para manter o clube de pé – acrescentou.
– Nesse tempo, só tenho a agradecer a vocês, todos foram muito carinhosos. Independentemente dos ataques pelos últimos anos, de blogueiros, pessoas da torcida e imprensa, é normal, não existe unanimidade. Fui de “câncer”, “some do Botafogo” até a pessoas que reconheceram o trabalho nesses 30 anos. Tenho certeza que fiz tudo que podia e estava ao meu alcance para ajudar o Botafogo. Deixo hoje e volto para a arquibancada com três legados importantes. O primeiro a retomada e a volta da sede de General Severiano, foi um marco importantíssimo para a história do clube. O segundo o Campeonato Brasileiro de 1995. E o terceiro o Durcesio (Mello). É meu legado, um amigo de 60 anos, muito querido, pessoa seríssima, diplomata, com amor ao clube semelhante ao meu, e que é um craque. Está fazendo tudo certo, aglomerando, conseguiu time espetacular, vice (Vinicius Assumpção) muito bom, CEO (Jorge Braga) trabalhando muito, pessoa excelente no marketing (Lênin Franco), grupo tocando futebol, André Chame um grande advogado, enfim, golaço – disse.
– Vocês vão me encontrar daqui para a frente ou no meu camarote ou na Leste Inferior, que adoro, indo nas torcidas, cantando, rezando, sofrendo e querendo ver o Botafogo melhor. Foram 30 anos em que tiveram erros e acertos, mas se pudesse voltar atrás faria tudo igual – finalizou.