O Botafogo prometido, o idealizado por nós, o real e o Júnior Santos

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Júnior Santos, do Botafogo, no Estádio Nilton Santos em agosto de 2022
Vítor Silva/Botafogo

Confesso que a volta do Júnior Santos ao Botafogo me pegou de surpresa, mas creio que esse retorno pode nos levar a uma reflexão importante e bastante elucidativa.

Desde que John Textor chegou ao Botafogo, a torcida começou a acompanhar cada palavra dita por ele e através disso, foi moldando a forma como encarava o novo momento do clube. O começo foi cheio de “boas novas”, interações e uma conexão quase que instantânea. O Textor entrou no clube com um roteiro muito bem construído e que do ponto de vista esportivo, conversou com boa parte dos anseios da nossa torcida

Logo após a sua criação, a SAF Botafogo iniciou os trabalhos fazendo uma janela potente em termos financeiros e dando o recado objetivo de que o Botafogo estava voltando a ser forte no mercado. Naquele momento, existia uma grande confiança de que o projeto estava bem amparado pela Lei da SAF e que o planejamento do clube poderia ser transportado da cabeça do Textor para a realidade. As conversas passaram a ser sobre comissão técnica europeia, Cavani, James Rodríguez, ter mais dinheiro que o Barcelona, estádio próprio, milhões em contratações e várias outras coisas que elevariam o nível do clube.

Com o passar do tempo, as coisas estavam oscilando dentro de campo e existia uma esperança bastante grande de que a segunda janela de 2022 seria ainda mais potente financeiramente que a primeira, porém, conforme as especulações iam aparecendo, foi ficando claro que o perfil de contratações havia mudado. Não estávamos mais indo atrás de jogadores que necessitassem de grandes investimentos em direitos econômicos, mas sim, de jogadores livres e que elevassem significativamente o nível técnico da equipe. Olhando em perspectiva, creio que ali começou o choque entre o Botafogo prometido, o idealizado por nós e o real.

Desde aquela segunda janela, o Textor começou a dar declarações mais “pés no chão”, mas tendo o cuidado de sempre manter acesa na torcida a chama de que a evolução na qualificação do elenco seria ascendente e constante. Após a chegada de jogadores importantes e mais qualificados, o time do Luís Castro começou a render mais dentro de campo. Naquela altura, boa parte da torcida estava confiante de que o projeto estava seguindo conforme o planejado, embora as críticas ao trabalho do treinador continuassem em níveis significativos.

A temporada termina, e com ela chegam declarações que davam para a torcida uma clara direção de que investimentos na melhora qualitativa do elenco eram necessários e seriam feitos (muito embora os salários estivessem atrasados). Pela primeira vez em muito tempo, o panorama para o ano seguinte era positivo e havia uma esperança real de que o planejamento seria feito de maneira assertiva e cuidadosa. O botafoguense estava vendo avanços idealizados por muito tempo se materializando, e isso aumentou ainda mais a expectativa pela chegada da nova temporada.

O ano de 2023 começou e a coisa rapidamente se mostrou diferente do imaginado pela torcida. A pré-temporada nos Estados Unidos foi cancelada, chegaram apenas dois reforços e uma aposta, o Carioca teve que ser jogado pra valer, Textor pouco apareceu e ficou uma sensação de que algo estava desconectado dentro do clube. O que ninguém contava, era que a sensação seria substituída pela certeza no dia 24 de Janeiro de 2023 quando o acionista majoritário foi entrevistado aqui no FogãoNET.

Durante a entrevista, ele apresentou um cenário que não era amplamente conhecido pela torcida e isso foi um duro choque de realidade. De uma só vez, Textor apresentou uma série de problemas na Lei da SAF que, segundo ele, estavam estrangulando o caixa do clube de maneira indevida. Daquele momento em diante, ficou escancarado o congelamento dos investimentos mais estratégicos e que o cenário era totalmente diferente do qual a SAF estabeleceu seu planejamento para o curto, médio e longo prazo. Mesmo diante de todas aquelas informações, nos foi dito que a Eagle Football estava capitalizada e que seriam contratados jogadores após o fechamento da janela europeia.

A janela europeia fechou, as lacunas do elenco ficaram ainda mais claras durante o Carioca, chegou o Di Placido, mas de maneira geral, o Botafogo se manteve entrando na loja e dizendo aquela clássica frase “Tô só dando uma olhadinha”. Do ponto de vista empresarial/financeiro, o posicionamento do Textor é acertado/esperado dentro de um cenário recheado de incertezas, mesmo que grande parte da torcida não goste disso. Na minha visão, o grande problema não foi fechar o bolso, mas sim, não ter comunicado isso da maneira correta. Tem faltado à SAF Botafogo o equilíbrio entre se comunicar francamente com sua torcida e ao mesmo tempo não colocar em risco qualquer parte estratégica do negócio.

Está muito claro que no momento atual estamos diante do Botafogo real, não do prometido ou idealizado pela torcida, e é nele em que a chegada do Júnior Santos faz sentido. Tenho a certeza de que o setor de scouting trabalhou muito bem e apresentou nomes interessantes, mas aí a realidade fez o esperado, ou seja, se impôs. O Júnior Santos é, ao meu ver, a síntese do nosso estágio atual, pois não é o jogador dos sonhos de ninguém (assim como nosso momento financeiro/gerencial), mas se mostra útil em um cenário bastante específico e que todos esperam superar brevemente.

O mantra da vez parece ser fazer mais e melhor com os limitados recursos disponíveis, tanto dentro quanto fora de campo.

Posto isso, seja bem-vindo de volta Júnior Santos!

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