Oswaldo de Oliveira não virou jogador de futebol, a exemplo dos irmãos dele, Sérgio e Waldemar. Mas o futebol sempre esteve no sangue, desde a infância, seja quando ouvia os grandes jogos da década de 50 pelo rádio, seja nas inúmeras idas ao Maracanã para acompanhar o esporte que tanto lhe fascina. Mas se não conseguiu se profissionalizar, entrou no meio por uma maneira de forma acadêmica na década de 70, ao cursar a faculdade de Educação Física. Pode se dizer que ele foi um dos pioneiros neste quesito. Mas só foi se tornar treinador de fato em 1999, quando assumiu o Corinthians. Apesar de estar há 14 anos no mercado, ele acredita que o treinador que não jogou profissionalmente ainda é olhado com desconfiança no meio do futebol.
– Na verdade, há um preconceito velado. Jogo bola até hoje e sou craque na minha pelada (risos). Mas sempre as pessoas veem, não com desconfiança, mas com demérito. Se for comparar um que não jogou com o que jogou futebol, quem esteve lá dentro terá prioridade pela experiência. Isso é racional. Pode não ser inteligente, mas tem fundamento. Acho que por isso fiquei tanto tempo sem chance – disse, ao LANCE!Net.
Confira abaixo o agradável bate-papo com Oswaldo de Oliveira:
LANCE!Net: Acredita que essa demora em virar treinador foi mais por não ter sido jogador?
R: Levei 23 anos para virar treinador. Mas também fiquei sem pretender muito de passar de preparador para treinador. Primeiro, por me exigir muito. Não pensava em assumir essa função sem estar muito bem preparado. Se não joguei, tenho que viver isso muito tempo. Garanto que muitos outros que não jogaram, tiveram vontade de treinar equipes.
L!Net: Ficar 23 anos trabalhando como preparador físico lhe deu a bagagem necessária?
R: Trabalhei esses 23 anos com mais de 30 treinadores, com formações diferentes. Aprendi filosofias, maneiras de encarar o jogo, aplicar treinos… Foi fundamental para mim.
L!Net: O Atlético-PR deixou o Estadual de lado por uma pré-temporada maior. Se isso der certo, será uma revolução no futebol daqui?
R: Pode ser. Vamos comprovar por A + B o que já sabemos, mas a execução nunca saiu do papel. Trabalhei cinco anos no Japão. Em janeiro, era férias, e, em fevereiro a pré-temporada. Lá, os jogos no meio de semana ocorrem uma sim outra não. Isso é importantíssimo. De repente, o Atlético-PR deu um tiro muito certo. O time tem tido um desempenho muito forte no campo. Mas vivemos de resultados. Pode fazer um trabalho maravilhoso, mas, se não ganhar, dificilmente será reconhecido. Se o Atlético permanecer e conseguir resultado, pode virar tendência no futebol brasileiro.
L!Net: Dá para dizer que este foi o trabalho que você mais revelou jogadores talentosos?
R: Não sei… No Corinthians lancei Kléber, Fernando Baiano, Edu, Gil, Ewerthon… No São Paulo, Kleber (Gladiador), Fábio Santos, Marco Antônio, Edcarlos… Foram clubes que não cheguei a completar um ano. Aqui consegui e estou dando sequência ao trabalho.
L!Net: Essa sequência é importante para a revelação de jogadores?
R: Os garotos estão sendo preparados desde ano passado, não tenha dúvidas disso. Desde 2012, trazemos cinco ou seis, e em quem vemos condições, fica. Ano passado foram Dória, Gabriel e Jadson. Alguns outros vão e voltam como Gegê, Gilberto e Jeferson. Neste ano estão tendo mais chances e estamos trazendo outros para cima.
L!Net: Dá mais prazer trabalhar com essas dificuldades?
R: Dá, óbvio. Como aquele gol contra o Corinthians no último minuto. É muito mais gostoso e comemorado. A base disso é o amor pelo futebol. Esse é o ponto de equilíbrio de conseguir sucesso apesar das dificuldades. Procuro, de cara, ganhar respeito e confiança, com transparência, honestidade e lealdade. Quem trabalha comigo, sente isso na pele. Não vou mentir e enganar, nem jogador ou funcionários. Não bebo suor de jogador. Quando você passa isso para as pessoas, elas vestem a camisa. E na hora de inverter o problema, se você conta com todos, é mais facilmente revertido. Essa é a nossa grande força.