Fala, Zé! Nunca fui de fazer sensacionalismo em cima do contato de ninguém. Não sou desses. Mas esta carta, do Zé – Alex de Menezes, aqui do Rio – me emocionou bastante e cá estou eu. Resolvi publicá-la não só pelo momento único que vivemos com o nosso Glorioso, mas também para fazer uma singela homenagem, para o mundo inteiro ver, a essa linda relação de amor em família, junto com o Botafogo. Uma relação que jamais terá ponto final e se torna ainda mais firme a cada dia.
Essa passagem pode ser longa pra uns, pesada para outros, mas poucos conseguem alcançar a grandeza e a reciprocidade do amor que este Zé nutre no peito. Esse relato sincero e de coração na ponta dos dedos, serve para que aqueles que bradam: “mas eles ganham milhões lá e vocês aí, se esgoelando”, se sintam um pouco mais babacas. Esse testemunhal serve pra enxergamos que futebol é muito mais do que 22 homens correndo atrás da bola num gramado. A paixão clubística é algo intangível, que não se alcança com dois ou três livros de autoajuda. A paixão clubística gera uma profusão de sentimentos que nem o mais avançado scanner consegue decifrar. A paixão clubística mexe na vida da gente de uma maneira tão absoluta, que nem o mais aplicado monge tibetano consegue interiorizar. E com o Botafogo tudo é ainda mais intenso. Pode ter certeza.
Todos nós: torcedores, jogadores, técnicos, profissionais ligados ao futebol… Enfim, todos que se aplicam na atividade, não devemos nunca nos esquecer que muito mais importante do que cifras e/ou resultados são as histórias. E esse esporte envolvente é um dos únicos ramos que consegue unir a emoção e o irracional com tanto desequilíbrio e harmonia ao mesmo tempo. Por um momento, eu deixei de ser Zé e passei a me sentir um pouco mais Alex. Obrigado por dividir isso com a gente, rapaz. Que Deus preserve a luz da sua Gloriosa mãe e o brilho da nossa portentosa Estrela. Sinta-se abraçado!
Dia 12/08/2013
O telefone da minha casa toca. Do outro lado da linha está um rapaz que se apresenta como bombeiro do Samu.
Ele me informa que a minha mãe havia acabado de ser atropelada em Olaria e estava recebendo atendimento médico no hospital Getúlio Vargas.
Bate o desespero e começo a chorar copiosamente.
Minha filha de 4 anos acorda assustada e me pergunta:
– O que houve, papai? Porque o senhor está chorando? Fala comigo, papai, por favor não chora!
Me encaminho ate o hospital e chegando lá descubro que o estado de saúde dela era muito grave e que estava respirando com a ajuda de aparelhos… Já que teve um dos pulmões perfurados.
Mais uma vez bate o desespero e o medo de perder a minha mãe me enlouquece.
Mal eu sabia que aquele dia seria somente o primeiro de uma via crucis de dor e desespero.
Dia 14/08/2013
O estado de saúde dela permanece o mesmo e os médicos lutam para tentar curá-la.
Volto para casa e só quero tentar dormir para, quando acordar, aquilo tudo não passar de um pesadelo.
Mas o sono não vem, ligo a TV para tentar assistir alguma coisa e percebo que estava passando um jogo do meu time do coração.
O jogo era Botafogo x inter. Um jogaço de bola, a partida da redenção do Vitinho… Mas eu não conseguia comemorar, não tinha ânimo para mais nada.
Dia 18/08/2013
Ela piora e começa um quadro de infecção, a única coisa que os médicos dizem é que estão tentando descobrir de onde está vindo essa infecção, para tentar combatê-la.
Saio do hospital e ando até a Avenida Brasil para poder pegar um ônibus de volta pra casa… Lá, eu espero por aproximadamente 40 minutos por um ônibus que teimava em não aparecer.
Decido então ligar a TV do meu celular e mais uma vez está passando um jogo do Botafogo.
Dessa vez, o jogo é contra a portuguesa… Passados exatos 45 segundos! GOL DO RAFAEL MARQUES e o Botafogo estava à frente do placar, inconscientemente eu abro o primeiro sorriso em dias.
Olho pela TV, vejo o semblante do Rafael e me pego a pensar:
– Como esse cara ainda sorri depois de tudo o que a nossa torcida fez com ele?
– De onde ele tira forças?
Mas a resposta estava bem ali, na minha cara: ERA NA FAMÍLIA… No lar que sempre o apoiou e nos seus companheiros de clube que sempre acreditaram nele, mesmo quando era alvo de piadas de todos os torcedores.
Obrigado Rafa, mesmo que por poucos segundos, eu consegui te entender e ter um pouco de sol em um dia tão sombrio.
Dia 24/08/2013
A infecção da minha mãe estava estabilizada e ela começou a querer respirar sozinha.
De tanta alegria eu nem me lembrei do jogo que o Botafogo faria contra o Atlético-PR (em que acabou derrotado).
Eu pensava: – Minha mãe vai melhorar e tudo vai dar certo.
Dia 28/08/2013
O telefone toca novamente.
Do outro lado da linha eu sou informado que a minha mãe havia acabado de falecer.
Não preciso dizer o que eu senti aquele dia, pois só quem já perdeu uma mãe sabe do que eu estou falando.
É INENARRÁVEL.
A DOR É INSUPORTÁVEL.
Dia 05/09/2013
Passada uma semana em que eu nem saía de casa, um amigo me liga e diz:
– Cara, tá todo mundo preocupado contigo, posso dar uma passada aí?
Chegando aqui ele me convenceu a assistir a um jogo do Botafogo no Maracanã.
Eu reluto, mas a minha esposa pede que eu tente distrair um pouco a cabeça, pois ela não aguentava mais me ver daquele jeito.
Eu aceito e chegando lá, me deparo com um Maracanã vazio, com um Clube que era um dos quatro primeiros desde o começo do campeonato.
Começa o jogo e só então eu consigo pensar em alguma coisa que não fosse no dia do enterro da minha mãe.
O Botafogo jogou mal aquele dia, mas eu posso me considerar um felizardo.
Pude ver surgir uma nova estrela na nossa constelação.
QUE GOLAÇO DO MENINO HYURI!
Havia tempo que eu não comemorava, sorria e sentia alegria como senti naquele gol.
Ah, Hyuri! Se você pudesse sentir a alegria que me fez sentir aquele dia!
Volto pra casa feliz depois de tanto tempo.
Agradeço ao meu amigo por ter me tirado de casa aquele dia.
Dia 17/09/2013
Resolvo compartilhar um pouco com os meus irmãos de camisa o que passei ao longo desses dias, toda a dor, sofrimento e passar pra eles esses raros momentos de alegria.
Depois daquele jogo, ganhamos mais três e estamos para fazer uma final antecipada contra o cruzeiro… Independente do resultado desse jogo, peço a todos paciência e apoio incondicional ao nosso clube.
Se vocês pudessem ver, entender como eu entendi os sentimentos do Rafael aquele dia, saberiam o quanto esses jogadores tem prazer em vestir a nossa camisa e honrar as nossas cores, como nenhum outro grupo fez antes.
Aos nossos jogadores, eu só tenho a dizer um MUITO OBRIGADO pelos raros momentos de felicidade na pior época da minha vida.
Estarei torcendo por vocês sempre que eu puder.
EU ACREDITO EM VOCÊS!
A minha mãe eu só tenho a dizer:
Você foi a melhor mãe que um filho poderia desejar, a personificação de toda a bondade do mundo.
Exemplo de caráter e dedicação.
Espero que um dia a minha filha possa me ver como eu sempre te vi.
Te amo, e a gente se encontra.
CEDO OU TARDE.
Alex de Menezes.